O princípio do fundamento reza: nihil est sine ratione. I
Traduz-se: nada é na verdade sem fundamento. I
O nosso entendimento não necessita de se esforçar para compreender o princípio do fundamento. I
No que é que isto reside? Nisto que o próprio entendimento humano em todo o lugar e constantemente, onde e quando se encontra activo, espreita imediatamente um olhar do fundamento, a partir daquilo que vem ao seu encontro é e tal como é. I
O entendimento lança um olhar para o fundamento, na medida em que ele próprio, a saber, o entendimento, reclama a indiciação do fundamento, o entendimento ou a indicação do fundamento. I
Em todo o a-profundar e funda-mentar, encontramo-nos num caminho para o fundamento. I
Sem o sabermos ao certo, estamos de qualquer modo continuamente a ser solicitados, a ser chamados para cuidarmos dos fundamentos e do fundamento. I
Como se isso se desse a partir de si próprio, encontramo-nos no nosso proceder e representar a caminho do fundamento. I
Nada é sem fundamento. I
O nosso comportamento dá conta por todo a parte, do que o princípio do fundamento diz. I
Assim também não pode pois surpreender-nos o seguinte: em todos os lugares onde o representar humano procede não apenas de modo entendido mas também reflectidamente, também com o tempo se lhe torna expressamente claro que ele segue, o que só mais tarde é enunciado expressamente pelo estabelecido fixado princípio do fundamento. I
Isto – que o homem passa e fica em consequência do princípio do fundamento – ocorre lentamente ao homem. I
Na medida em que o representar humano meditar nisto, que por toda a parte, tudo é, de algum modo, aprofundado e fundamentado, ressoará nele o princípio do fundamento como móbil fundamental do seu comportamento. I
Nós dizemos com prudência: o princípio do fundamento ressoará. I
Mesmo aí, onde o representar humano transita para uma meditação sobre o seu próprio agir e cuida desta meditação, mesmo aí, onde esta meditação se eleva até aquilo que há muito tempo é denominado pela palavra grega philosophia, mesmo na filosofia, apenas depois de muito tempo, apenas ressoa o princípio do fundamento. I
Foram precisos séculos, até o princípio do fundamento ser enunciado como princípio na curta formulação primeiramente mencionada. I
O princípio do fundamento nesta formulação foi pela primeira vez alcançado e especialmente discutido no âmbito daquelas reflexões, que Leibniz conseguiu no século XVII. I
Depois disso passaram dois mil e trezentos anos, até que o pensamento europeu-ocidental tivesse desejado encontrar e pôr de pé o simples princípio do fundamento. I
Mas ainda mais estranho, é que nós não nos espantemos ainda da lentidão com que o princípio do fundamento se manifestou. I
Onde e como dormiu durante tanto tempo o princípio do fundamento e sonhou antecipadamente o impensado nele? Não é agora ainda o momento certo para sobre isso reflectir. I
Provavelmente também não estamos ainda suficientemente despertos para a estranheza que se anuncia, uma vez que comecemos a dar a devida atenção ao invulgarmente longo período de incubação do princípio do fundamento. I
Para quê, então, a admiração perante a singular história do princípio do fundamento? Não nos iludamos. I
O princípio do fundamento e a sua história não nos incitam de modo nenhum permanecermos para aí muito tempo. I
Mas que o princípio do fundamento – este enunciado próximo, e que a formulação concisa igualmente próxima não pudesse ser achada durante tanto tempo! Porque é que tal não nos comove, até mesmo porque não nos derruba? Porque não? Resposta: porque a nossa relação com o que está situado próximo, há muito tempo que é insensível e apática. I
Por essa razão mal podemos pressentir, quão próximo de nós se encontra, o que diz o princípio do fundamento. I
Porque haveremos então de nos preocupar com princípios tão vazios como o princípio do fundamento? Pois ele é vazio, porque nele nada existe de evidente para ver, nada que possa ser agarrado pela mão, e até com o entendimento nada mais existe para perceber. I
Logo que ouvimos o princípio do fundamento damo-nos por elucidados. I
E não obstante – talvez o princípio do fundamento seja o mais enigmático de apenas todos os princípios possíveis. I
Nada, aqui, significa: não uma qualquer de tudo aquilo que de algum modo é, o é sem fundamento. I
Nesta versão do princípio do fundamento nota-se imediatamente que ele contém duas negações: nihil – sine; nada – sem. I
A dupla negação resulta numa afirmação: Nada daquilo que de certo modo é, o é sem fundamento. I
Isto quer dizer: cada coisa que é de algum modo um ente tem um fundamento. I
Na presente formulação do princípio do fundamento ocorre diferentemente. I
Até que ponto? O enunciado afirmativo: «Cada ente tem o seu fundamento» soa como um apuramento. I
Ele observa que cada ente é provido de um fundamento. I
Poderemos nós agora verificar se cada ente tem um fundamento? Para realizarmos esta verificação, teríamos de trazer perante nós, cada ente que em qualquer altura e em qualquer lugar é, foi e será, para então examinarmos até que ponto ele tem um fundamento para si, em si. I
A nossa afirmação: «cada ente tem um fundamento» apoia-se assim, como se diz, sobre pés de barro. I
Supondo que estaríamos em condições de examinar se todos os entes e reais teriam respectivamente um fundamento, permaneceria contudo ainda o campo aberto daquilo que não é realmente e apesar disso é, na medida em que é possível – é. I
Também este possível, o possivelmente ente pertence ao ente num sentido mais vasto e tem um fundamento da sua possibilidade. I
Mas quem se poderia atrever passar em revista minimamente tudo aquilo que é possível e possivelmente é real? Entretanto alguns já terão pensado, que o princípio do fundamento na formulação: «cada ente tem um fundamento» não é um simples apuramento, e por isso ele não precisa de ser averiguado do modo como normalmente é averiguado um apuramento. I
Se o princípio do fundamento fosse um princípio simplesmente verificativo, então ele teria de estar na formulação exacta: cada ente, até ao ponto em que o ente pôde ser observado até agora, tem um fundamento. I
Porém o princípio do fundamento quer dizer mais, nomeadamente o seguinte: em geral, e isto quer dizer em regra, cada ente tem um qualquer fundamento, para que seja e assim seja, como é. I
O princípio do fundamento diz contudo singelamente: cada ente tem um fundamento. I
O princípio do fundamento não é nem uma verificação nem uma regra. I
De modo mais adequado, esta deverá ser: cada ente tem necessariamente um fundamento. I
Mas afinal de que género é esta necessidade? Em que é que ela se apoia? Sobre o que se fundamenta o princípio do fundamento? Onde tem o próprio princípio do fundamento o seu fundamento? Ao questionarmos assim, eliminamos logo o capcioso e o enigmático deste fundamento. I
Pode-se decerto afastar o enigmático do princípio do fundamento com um golpe, num acto autoritário. I
Contudo ninguém se atreverá a afirmar que incondicionalmente o princípio do fundamento elucida de modo imediato aquilo que ele afirma. I
Sob que luz é então o princípio do fundamento um princípio elucidativo? De que luz precisa o princípio para brilhar? Vemos nós essa luz? E no caso de a vermos, não é sempre perigoso ver a luz? Aparentemente, nós podemos encontrar a luz na qual brilha o princípio do fundamento apenas para esclarecermos a que tipo de princípios pertence este princípio do fundamento. I
Sobre o carácter de princípio deste princípio do fundamento já foi mencionada alguma coisa. I
Alguns acharão que até aqui já foi falado o suficiente sobre a forma deste princípio, que deveria ser altura, para sem mais rodeios, se entrar no conteúdo do princípio do fundamento. I
No entanto também este modo de representar alterado e a expressão que lhe está subordinada permanecem separados por um abismo, da sabedoria do dizer que o princípio do fundamento em si encerra. I
Com efeito a frase-princípio do fundamento entrega-se à primeira vista e à primeira audição da mesma forma que todas as outras frases h cada ente tem necessariamente um fundamento. I
Nesta perspectiva escutamos também de seguida a frase-princípio do fundamento. I
Enquanto este ponto de vista se mantiver como o único normativo, também não poderemos soltar a frase-princípio do fundamento do círculo deste tipo de frase. I
Porém aquilo que a frase-princípio do fundamento põe e como ela o põe, o modo como ela pensada rigorosamente, é uma frase-princípio, não permite comparação com todas as outras frases. I
No caso de esta afirmação ser verdadeira, sugere desde logo a dúvida sobre se o princípio do fundamento será absolutamente uma frase no sentido de uma afirmação gramaticalmente entendida. I
Por isso nós teríamos de, já agora, na primeira tacteante tentativa de discutir o princípio do fundamento, referir-nos à sua propriedade, de uma forma mais clara mesmo que de uma maneira ainda bastante rudimentar. I
Antes dissemos que o princípio do fundamento não contém nenhuma simples verificação, e que ele não afirma também apenas uma regra que permite excepções. I
O princípio diz uma coisa, que necessariamente se comporta, como se comporta: cada um e todos os entes têm necessariamente um fundamento. I
O princípio do fundamento é um princípio fundamental 2. I
Talvez possamos até pretender ainda mais e dizer: o princípio do fundamento é o princípio fundamental de todos os princípios fundamentais. I
A afirmação de que o princípio do fundamento é o princípio fundamental, quer dizer em primeiro lugar, que o princípio do fundamento não é um princípio entre muitos outros, ele é sobretudo o primeiro de todos os princípios fundamentais segundo a categoria. I
Se o princípio do fundamento deve ser o supremo de todos os princípios fundamentais, então referimo-nos com esta pluralidade de princípios, àqueles mais primeiros princípios fundamentais, que são reguladores e orientadores para todo o representar humano. I
A estes princípios, acrescenta expressamente o ensinamento tradicional da filosofia, desde Leibniz, também o princípio do fundamento. I
Identidade significaria co-pertença de vários no mesmo, ou mais claramente: co-pertença de vários com fundamento do mesmo. I
Com fundamento? O mesmo surge aqui em jogo como o fundamento da co-pertença. I
Na identidade, o carácter de fundamento fala como aquilo sobre o qual e no qual se apoia a co-pertença de vários. I
Daí deduzimos já, se bem que apenas aproximadamente, que a identidade naquilo que ela é, não nasce sem o fundamento. I
Mas é do fundamento que trata o princípio do fundamento. I
O princípio da identidade poderia por isso fundamentar-se no princípio do fundamento. I
Assim não seria aquele princípio de identidade mas este princípio do fundamento, o supremo princípio fundamental de todos os primeiros princípios fundamentais. I
Talvez seja o princípio do fundamento também apenas o primus inter pares, o primeiro entre os primeiros princípios fundamentais, os quais, no fundo, são entre si do mesmo escalão. I
Em todo o caso, a asserção de que o princípio do fundamento é o supremo dos princípios fundamentais, não é completamente supérflua. I
A resposta a esta interrogação exige que nós saibamos de um modo suficientemente inteligível, o que é em primeiro lugar um fundamento ou razão e depois o que é um princípio. I
Onde e como receberemos uma informação fidedigna sobre o que é um fundamento? Provavelmente através do princípio do fundamento. I
No entanto, estranhamente, o princípio do fundamento não trata em absoluto do fundamento enquanto tal. I
O princípio do fundamento diz antes: cada ente tem necessariamente um fundamento. I
O princípio do fundamento pressupõe logo, pelo seu lado, que seja determinado o que é um fundamento, e que seja claro em que contexto (worin) se é que apoia a essência do fundamento. I
O princípio do fundamento assenta neste pressuposto. I
Mas então um princípio que pressupõe algo de tão essencial, pode ainda ser abordado como um princípio fundamental e até como o supremo? O princípio do fundamento não nos ajuda mais longe na tentativa de tornar inteligível em que é que consiste a essência de qualquer coisa como fundamento. I
Mas o que significa sujeito? O latino subiectum, o grego hypokeimenon, significam: o que subsiste (Vorliegt) no fundo, aquilo o que subsiste como fundamento, para um enunciado sobre ele. I
Por conseguinte, também isso, o que um princípio é, apenas pode ser elucidado, se tivermos previamente esclarecido, em que é que se apoia a essência do fundamento. I
Aquilo que o princípio do fundamento é como supremo princípio fundamental, permanece para nós digno-de-ser-interrogado. I
Para onde quer que olhemos, a discussão do princípio do fundamento cai, logo com os primeiros passos, na obscuridade. I
Pois nós gostaríamos de elucidar o princípio do fundamento. I
O caminho vai em direcção ao princípio do fundamento, ao que o princípio diz, à origem do que diz e ao como ele o diz. II
O princípio do fundamento reza: Nihil est sine ratione; nada é sem fundamento. II
Reflectimos pelo contrário sobre qual o género de princípios a que o princípio do fundamento pertence. II
Porque nós ponderamos sobre o princípio do fundamento como um princípio fundamental, o fio condutor que nós primeiramente tomámos conduz-nos, por assim dizer exteriormente, ao longo do princípio. II
Ele há-de conduzir-nos a um lugar a partir do qual pela primeira vez então atingiremos em certa altura a uma tomada de conhecimento mais próximo sobre como o princípio do fundamento excepção no campo do pensamento ocidental. II
Nós alcançamos assim uma primeira abordagem relacionamento, com o princípio do fundamento como um princípio fundamental. II
Desta tomada de conhecimento resulta uma penetração do olhar da nossa relação habitual com o princípio do fundamento. II
Assim, poderia por conseguinte acontecer que o princípio do fundamento, considerado dessa maneira, nos transmitisse simultaneamente algum esclarecimento sobre a nossa própria essência, sem que nos preocupássemos com nós próprios. II
Nós poderemos sabê-lo ou não, poderemos ou não, dar uma atenção especial ao que é sabido, mas a nossa estada no mundo, a nossa travessia da terra, são, por toda a parte, a caminho dos fundamentos e do fundamento. II
Aquilo que vem ao nosso encontro, é aprofundado muitas vezes, apenas no fundamento, evidente, por vezes atrevemo-nos também no fundamento anterior e raramente até à orla do abismo do pensamento. II
Qual é a causa por que isso assim nos acontece? Será isso apenas um facto com o qual não necessitamos de nos importar? O mundo e a vida seguem o seu trilho, sem que nós reflictamos sobre o princípio do fundamento. II
Contudo, podemos também, exactamente porque a nossa conduta é assim animada, perguntar: com que fundamento é que a nossa conduta é aprofundadora e fundamentadora? A resposta a esta pergunta contém o princípio do fundamento. II
O princípio do fundamento reza, na breve versão: Nihil est sine ratione; nada é sem fundamento. II
Isto exprimido na versão afirmativa: cada coisa que é de alguma maneira, tem necessariamente um fundamento. II
Nós concordamos com o princípio do fundamento porque nós temos certa a sensação, como se costuma dizer, de que o próprio princípio terá de estar certo. II
Bastará, porém, que façamos valer o princípio do fundamento deste modo bastante solto? Ou é este fazer valer, na verdade, o mais grosseiro desrespeito pelo próprio princípio? Porque o princípio do fundamento não é, enquanto um princípio, nada. II
Ele é consequentemente uma daquelas coisas, que segundo a própria afirmação do princípio deverá ter um fundamento. II
Qual é o fundamento para o princípio do fundamento? O próprio princípio invoca em nós esta interrogação. II
Mas, por um lado, opomo-nos a que continuemos ainda a interrogar deste modo, porque perante o simples princípio do fundamento, a interrogação parece ser forçada e capciosa. II
Por outro lado, vemo-nos obrigados, através do próprio princípio do fundamento, ou seja conformes com ele, a interrogarmos o seu fundamento, também em relação a ele próprio. II
Ou o princípio do fundamento é aquele fundamento, aquela qualquer coisa em geral, que de modo ímpar não é afectada por aquilo que o princípio diz: cada coisa, que de algum modo é, tem necessariamente um fundamento. II
Ocorreria neste caso o mais estranho de tudo, que justamente o princípio do fundamento – e apenas ele – ficaria de fora no seu próprio âmbito de validade; o princípio do fundamento ficaria sem fundamento. II
Ou então o princípio do fundamento tem também e decerto necessariamente um fundamento. II
Mas se for este o caso, então provavelmente este fundamento não poderá ser também apenas um entre muitos outros. II
Pelo contrário, ser-nos-ia permitido esperar que se o princípio do fundamento se expressar no seu máximo alcance, reivindicará ao máximo para si próprio justamente o direito a uma fundamentação. II
O fundamento para o princípio do fundamento seria então o mais eminente entre todos os fundamentos, assim qualquer coisa como o fundamento do fundamento. II
Mas onde iremos cair, se tomarmos o princípio do fundamento pela sua própria palavra e assim nos aproximarmos do fundamento do fundamento? Não impele forçosamente o fundamento do fundamento para lá de si próprio em direcção ao fundamento do fundamento do fundamento? Onde haverá, se nós continuarmos neste modo de questionar, ainda uma paragem e com isso ainda uma perspectiva do fundamento? Se o pensamento seguisse este caminho até ao fundo, então ele teria de se afundar imparavelmente até ao sem-fundo (Grundlose). II
De qualquer modo, mostra-se: com o princípio do fundamento e a sua fundamentação, com o princípio como princípio fundamental tratar-se de uma coisa própria. II
O princípio do fundamento é portanto aquilo que simultaneamente lança uma estranha luz sobre o caminho para o fundamento e nos mostra que, quando nós travamos conhecimento com os enunciados fundamentais e princípios, alcançamos uma região singularmente crepuscular, para não dizer perigosa. II
Para nós, que nos encontramos no início do caminho para o princípio fundamental do fundamento e somos forasteiros nesta região, poderá ser uma ajuda saber alguma coisa sobre esses poucos. II
Na discussão do princípio do fundamento, nós resguardamo-nos tanto de pretensões pressurosas e inflaccionadas, como também de uma sobriedade fatigante para o pensamento. II
É conhecido que Descartes queria trazer todo o conhecimento humano até um fundamento inabalável (fundamentum inconcussum), de tal sorte que ele em primeiro lugar, duvidou de tudo e apenas admitiu como conhecimento seguro, aquilo que se apresentar como claro e distinto. II
O que poderemos aprender com a palavra de Leibniz? Para o caminho para o fundamento e para a permanência na região dos enunciados fundamentais e dos princípios são necessárias simultaneamente duas coisas: a sagacidade do pensamento e a reserva – as duas no entanto de cada vez no sítio certo. II
O princípio do fundamento é usado e seguido por nós em toda a parte como apoio e estaca; mas simultaneamente, ele precipita-nos, ainda que nós mal reflictamos sobre o seu próprio sentido, no sem-fundo. II
Assim pairam já bastantes sombras sobre o princípio do fundamento. II
A sombra torna-se mais carregada, logo que retivermos que, o princípio do fundamento não é um princípio qualquer entre outros princípios. II
Dito de um modo extremo, isto significa: o princípio do fundamento é o fundamento dos princípios. II
O princípio do fundamento é o fundamento do princípio. II
Permaneçamos quietos durante algum tempo, caso nos seja permitido: o princípio do fundamento – o fundamento do princípio. II
O princípio do fundamento enquanto o fundamento do princípio – esta estranha relação torna confuso o nosso representar habitual. II
Poder-ser-ia certamente duvidar disto e chamar a atenção para isto que o confuso nasce apenas de jogarmos com as palavras «fundamento» e «princípio», que formam a epígrafe do princípio do fundamento. II
A jogatina com palavras chega entretanto logo ao fim, quando nos vemos devolvidos à versão latina do princípio do fundamento. II
Mas como reza a correspondente epígrafe latina? Leibniz denomina o princípio do fundamento o principium rationis. II
Por conseguinte, o principium rationis não é outra coisa senão a ratio rationis: o fundamento do fundamento. II
Também a epígrafe latina do princípio do fundamento nos impele para a mesma confusão e complicação: o fundamento do fundamento; o fundamento vira-se para trás para si próprio, conforme se anuncia no princípio do fundamento como o fundamento do princípio. II
Por conseguinte, não reside no teor da epígrafe do princípio, nem em alemão, nem em latim, o facto de nós não podermos ir em frente ao longo do princípio do fundamento, senão que somos imediatamente arrastados para um movimento anelar. II
Pois continua a dever-se ter em consideração, que a epígrafe alemã: «o princípio do fundamento» (Der Satz vom Grund) é totalmente outra coisa do que a tradução literal da epígrafe latina: principium rationis, mesmo quando nós em vez de princípio do fundamento dizemos mais adequadamente: princípio fundamental do fundamento. II
Pois nem a palavra fundamento é a tradução literal da palavra ratio (raison) nem a palavra princípio fundamental é a tradução literal da palavra principium. II
Justamente isto pertence ao enigma do princípio do fundamento, assim como do principium rationis, que o princípio (Satz) e o princípio (Prinzip) nos confundem logo com a simples epígrafe, sem que nós reflictamos o mínimo que seja sobre o seu conteúdo. II
O enigmático do princípio do fundamento, reside nisto que o princípio (Satz) que está para discussão como princípio que ele é, tem o nível e o papel de um princípio (Prinzip). II
O principium rationis, o princípio fundamental do fundamento, é para Leibniz um tal axioma. II
A nossa discussão do princípio fundamental do fundamento assentaria num ápice numa outra base de fundamento. II
Nada é sem fundamento – diz o princípio do fundamento. III
Nada, por conseguinte, também não este princípio do fundamento. III
A não ser que, justamente o princípio do fundamento e aquilo de que ele fala, e esse próprio falar, não pertencessem ao campo de influência do princípio do fundamento. III
Ela significaria, dito com brevidade: o princípio do fundamento é sem fundamento. III
Dito ainda mais claramente: «nada sem fundamento» – isso, por conseguinte, algo, sem fundamento. III
Qual é o caso que se apresenta? «Nada sem fundamento» – o próprio sem fundamento – isto é uma notória contradição. III
Mas o que se passa no nosso caso, que nós podemos expressar na fórmula: o supremo princípio fundamental do fundamento é sem fundamento? O princípio fundamental da contradição impede-nos de pensar algo de semelhante. III
Mas poderemos nós, neste caso, em que se trata da discussão do princípio fundamental supremo, referirmo-nos irreflectidamente a um outro princípio fundamental, aquele da contradição, como princípio-fundamento normativo? Como é designada a legitimidade do princípio fundamental da contradição? Poderemos aplicá-lo como princípio fundamental, sem discutirmos o que é um fundamento e o que é um princípio? A permanente referência ao princípio da contradição poderá ser para as ciências a coisa mais evidente do mundo. III
Ela demonstra: contradição e conflito não constituem um fundamento contra a possibilidade de qualquer coisa ser efectivo. III
Assim permanece, pois, no campo das nossas reflexões sobre o princípio fundamental do fundamento, uma atitude, sob vários pontos de vista, apressada, quando nós sem mais nada, irreflectidamente, nos referimos ao princípio da contradição e explicamos: o princípio do fundamento – sem fundamento, isto contradiz-se a si mesmo e é por conseguinte impossível. III
Certamente – mas como é que podemos representar este estado-de-coisas: o princípio do fundamento sem fundamento? Logo que, de facto, nós representarmos qualquer coisa, representamo-la como isto ou como aquilo. III
Com esse «como isto, como aquilo» nós acomodamos o representado algures, depositamo-lo, por assim dizer, levamo-lo até um fundamento. III
O nosso representar recorre por toda a parte a um fundamento. III
O princípio do fundamento sem fundamento – isso apresenta-se para nós como irrepresentável. III
Mantenhamos, contudo, que o princípio do fundamento, e ele antes de todos os outros, tem um fundamento, então perfilar-se-á diante de nós a questão: qual é o fundamento do princípio do fundamento, de que espécie é este, decerto estranho, fundamento? O princípio do fundamento é legítimo como princípio fundamental. III
Nós afirmamos até que ele é o supremo princípio fundamental: o fundamento de todos os princípios e isto quer dizer do princípio enquanto tal. III
Nesta asserção está contido que: o princípio do fundamento, isto é, aquilo de que ele fala, é o fundamento daquilo que o princípio é, o que é o enunciado daquilo que o dizer enquanto tal, é. III
Aquilo de que o princípio do fundamento fala, é o fundamento da essência da linguagem. III
Se o princípio do fundamento fosse o supremo de todos os princípios, então ele seria simultaneamente e em todo o caso o fundamento do princípio. III
O princípio do fundamento é o fundamento do princípio. III
Já teremos atingido nós, de facto, este turbilhão? Ou apenas verificamos a partir do exterior que: isto, o princípio do fundamento como fundamento do princípio, produz o efeito de um turbilhão? Seria agradável e proveitoso, se nós pudéssemos atingir tão rapidamente o turbilhão e até o seu núcleo. III
Mas primeiramente, a região do princípio do fundamento não nos é familiar, como tão pouco nos é a travessia dessa região. III
Consiste apenas em que digamos que o princípio do fundamento é um princípio evidente. III
O que diz o princípio fundamental do fundamento? Onde é que ele pertence? De onde é que ele fala? Estas perguntas não são totalmente extravias, apesar de despertarem a aparência de que a sua discussão poderia contribuir em pouco para a promoção das ciências, como se a sua discussão pudesse até induzir a filosofia a reflectir superficialmente sobre as necessidades prementes da época actual. III
Por isso, antes de tentarmos uma discussão do princípio do fundamento, daremos uma última daquelas marcas distintivas que, por assim dizer, se movem apenas exteriormente em torno do princípio. III
O que se segue deverá tornar ainda mais claro onde é que nos encontramos e para onde vamos, no caso de nos dispormos a discutir o princípio do fundamento. III
Leibniz denomina o princípio do fundamento um principium grande, um princípio magno. III
Mas isso permanecer-nos-á interdito enquanto não tivermos à disposição uma discussão satisfatória do princípio do fundamento. III
A magnanimidade do princípio do fundamento também se nos revela, todavia, logo quando tomamos em consideração apenas uma versão do principium rationis, que se encontra frequentemente em Leibniz. III
Nada é sem fundamento ou nenhum efeito sem causa». III
Leibniz coloca, na fórmula agora mesmo apresentada do princípio do fundamento e do princípio da causalidade, através do sive (ou), os dois abertamente num plano equiparado. III
É-se tentado a criticar esta equiparação ao reflectirmos que: cada causa é certamente um tipo de fundamento, mas nem todos os fundamentos apresentam o caracter da causa que tem um efeito como consequência. III
Este axioma pode servir como fundamento, no papel de princípio superior de um silogismo. III
Na sequência deste fundamento resulta que duas grandezas determinadas são iguais entre si. III
Fundamento e consequência não são o mesmo que causa e efeito. III
Por essa razão, deixamos em aberto a questão relativa à relação entre o princípio do fundamento e o princípio da causalidade. III
Até aqui algo se toma claro: o princípio da causalidade pertence à área de influência do princípio do fundamento. III
Até aqui, falou-se apenas sempre de uma versão do princípio do fundamento, que nós denominámos a versão curta. III
Este princípio mencionado em segundo lugar diz, quod omnis veritatis reddi ratio potest (ib), «que para cada verdade (isto é, segundo Leibniz, para cada verdadeiro princípio) pode ser concedido um fundamento». III
Rationem reddere significa: devolver o fundamento. III
Conforme o principium reddendae rationis, o representar tem de, caso pretenda que seja reconhecedora, dar de volta o fundamento daquilo que vem ao encontro ao representar, e isto quer dizer, dá-lo de volta a si mesmo (reddere). III
No representar re-cognitivo o fundamento é entregue ao eu recognitivo. III
O princípio do fundamento é por isso, para Leibniz, o princípio fundamental do fundamento a ser deposicionado. III
Das passagens mencionadas e de outras, demonstra-se o seguinte: a versão rigorosa do princípio do fundamento é apenas então alcançada, quando o princípio é concebido como princípio fundamental da demonstração, isto é, num sentido mais amplo como princípio fundamental da afirmação. III
Leibniz refere-se ao princípio da contradição e ao princípio do fundamento. III
Para Leibniz, o princípio do fundamento é um princípio para proposições e declarações, em primeira linha para aqueles do (re)conhecimento, filosófico e científico. III
O princípio do fundamento é o princípio fundamental da sempre possível e necessária entrega do fundamento a um princípio verdadeiro. III
O princípio do fundamento é o princípio fundamental da necessária fundamentação de princípios. III
No título principium reddendae rationis deve-se acrescentar: cognitioni: o princípio do fundamento, contanto que este tenha de ser devolvido ao (re)conhecimento, para que aquele seja fundamentado, e por isso verdadeiro. III
Só quando nós tivermos captado este sentido, vislumbraremos mais claramente, o que é que adquire poder no princípio do fundamento. III
A versão rigorosa do principium rationis como principium reddendae rationis não é, por conseguinte, qualquer limitação do princípio do fundamento, pelo contrário, o principium reddendae rationis é válido para tudo o que é objecto, isto é, tudo o que «é», no sentido assinalado. III
A versão rigorosa do principium rationis como principium reddendae rationis contém assim uma interpretação concretamente orientada e decisiva daquilo que o ilimitado princípio do fundamento diz: nada é sem fundamento. III
Ou dito neste ponto: algo «é» apenas, ou seja, é demonstrado como ente, quando esse algo é enunciado num princípio, para o qual é suficiente o princípio fundamental do fundamento enquanto princípio fundamental da fundamentação. III
A magnanimidade do princípio do fundamento desenvolve o seu poder na base de que o principium reddendae rationis – segundo a aparência apenas um princípio do (re)conhecimento – simultaneamente e justamente como princípio fundamental do (re)conhecimento, se torna no princípio daquilo que é. III
Leibniz pôde descobrir expressamente o princípio do fundamento, que já desde há séculos era seguido porque sempre invocado, porque ele teve de proclamar o principium rationis como principium reddendae rationis; «teve de», afirmamos nós, e não queremos afirmar com isso, obviamente, uma obrigação cega e irresistível, à qual Leibniz estivesse sujeito. III
Nós referimo-nos à liberdade, com a qual Leibniz no seu tempo, na já invocada máxima do princípio do fundamento entendeu a reivindicação decisiva e – no sentido literal – a fixou na linguagem, na qual se afirma o conteúdo do princípio ainda não estabelecido como princípio fundamental. III
Isto quer dizer: o fundamento é aquilo que deve ser entregue ao homem pensante, conceptualizante. III
O reddendum, a reivindicação à entrega do fundamento, é aquilo que no princípio do fundamento adquire poder no princípio magno. III
O reddendum, a reivindicação à entrega do fundamento, expressa-se agora imprescindível e incessantemente através dos tempos modernos, pairando sobre nós, contemporâneos. III
O reddendum, a reivindicação à entrega do fundamento, deslocou-se agora para se pôr entre o homem pensante e o seu mundo, para se apossar do representar humano de uma nova maneira. III
Será que nós, que nos encontramos agora aqui, já sentimos aquilo que faz o poderoso princípio do fundamento, ou já o experimentámos expressamente ou já ponderámos sobre ele de uma forma inteiramente satisfatória? Se não nos quisermos iludir, teremos todos de admitir que: não. III
Todos, digo eu, também aqueles que uma ou outra vez se formularam pensamentos sobre a «essência do fundamento». III
Mas quando nós, por um momento, meditamos sobre a questão anteriormente levantada, teremos de afirmar que nunca nem em qualquer lugar, com todos os esforços em torno das Ciências, nos encontrámos com o princípio do fundamento. III
Esta fundamenta-se sobre o princípio do fundamento. III
Como é que nós poderemos representarmo-nos isto: a Universidade fundamentada sobre um princípio? Poderemos atrever-nos a formular uma tal asserção? Nós escutamos o princípio do fundamento: nihil est sine ratione. IV
Nada é sem fundamento. IV
Mal escutado, o princípio do fundamento também é desde logo aceite por nós. IV
Até que ponto o princípio do fundamento não é apenas, de facto, sempre invocado, mas é também necessário e qual o sentido desta necessidade, iremos sabê-lo de modo mais claro já a seguir. IV
Entretanto já tivemos de tomar conselho, no início do nosso caminho, sobre como é que o princípio do fundamento, enquanto princípio, foi primeiramente descoberto por Leibniz, no século XVII. IV
Inclinamo-nos para afirmar que o espírito do século XVII conduziu à descoberta do princípio do fundamento como um princípio. IV
Mas nenhuma das duas é suficiente para a tranquila visão que aqui é necessária para olhar através da história que rege, com longas ausências e repentinas aparições, o princípio do fundamento. IV
De qualquer modo está assente que o descobridor do princípio do fundamento como um princípio fundamental, o próprio Leibniz, classificou o principium rationis com a distinção de principium grande, de princípio magno. IV
Nós encontramo-nos nas fronteiras de uma reflexão preparatória para esclarecer, até que ponto o princípio do fundamento é o princípio magno. IV
O princípio do fundamento é por isso apenas um princípio normativo dentro do sistema leibniziano, porque este princípio se relaciona com tudo que é. IV
A versão vulgar do princípio do fundamento não é incorrecta, mas contudo, no sentido de Leibniz ela é imprecisa. IV
Um dos mais profundos, entre os graves ensaios ulteriores de Leibniz, começa assim: Ratio est in Natura, cur aliquid potius existat quam nihil – «Fundamento é na Natureza, pela qual algo pode existir mais do que nada». « IV
Este fundamento (na das coisas, em conformidade com a inclinação que elas têm, antes para existirem do que para não existirem) dever estar num, de algum modo, Ente Real, ou na sua causa». IV
Esse existente é nomeado na frase seguinte, a ultima ratio Rerum, o extremo (supremo) fundamento existente (seiende) de todas as coisas. IV
A área de validade do princípio do fundamento abrange todo o ente até à sua primeira causa existente, e inclui esta. IV
Ela reza: principium reddendae rationis: o princípio fundamental do fundamento a ser devolvido. IV
Isso quer dizer: segundo o princípio do fundamento, o fundamento não é subsistente algures e de qualquer modo, no indefinido e no indiferente. IV
O fundamento enquanto tal exige isso, ser devolvido como fundamento – , restituir a saber, na direcção do re-presentado, isto é, do sujeito representante e através deste para aquele. IV
O fundamento exige ser manifesto por toda a parte, de modo que tudo no âmbito desta reivindicação, apareça como uma consequência e isto significa que deva ser representado como uma consequência. IV
Apenas aquilo que se apresenta no nosso representar de tal modo, e vem ao nosso encontro (be-gegnet) de tal modo, que seja posto e situado no seu fundamento, vale como seguramente permanecente, isto é como objecto. IV
Mas um representar é então apenas fundamentado quando respectivamente o fundamento como fundamentador é devolvido ao sujeito representante. IV
Esta reivindicação expressa-se no entanto no próprio fundamento, na medida em que ele enquanto tal exige o de-volver em todo o representar. IV
O que patenta poder no princípio do fundamento é a reivindicação ao devolver do fundamento. IV
Tudo o que é, é em consequência de…, é ele próprio consequência de um fundamento e isto quer dizer, isso é em consequência e conforme à reivindicação à devolução de um fundamento, reivindicação que se afirma no princípio do fundamento como o principium reddendae rationis. IV
Como a ultima ratio da Natura, como o extremo, supremo e isto quer dizer, o primeiro fundamento existente (seiende) para a natureza das coisas, deve-se colocar aquilo que costumamos denonimar por Deus. IV
Na natureza das coisas, existe um fundamento para que qualquer coisa antes seja, do que seja nada. IV
O fundamento chama-se Deus como a primeira causa existente de todo o ente. IV
Mas porque é legítimo o princípio de que deve haver um fundamento para que alguma coisa antes seja, do que ela não seja? Com este princípio inicia Leibniz o seu ensaio. IV
Fundamento é na natureza das coisas». IV
Este princípio invertido pela extremidade é ele próprio já uma consequência, a saber, do princípio do fundamento. IV
Isso – ou seja, o que o primeiro principio diz – , é uma consequência, um seguimento daquele principium magnum, daquele magno princípio fundamental, o qual diz que nada é, isto é, nada chega ao ser, sem fundamento». IV
Dito até ao extremo, isto significa: Deus existe, apenas na medida em que o princípio do fundamento é legítimo. IV
Mas poderíamos retorquir logo de seguida: em que medida, no entanto, é que é legítimo o princípio do fundamento? Se o princípio do fundamento é o magno princípio potente de possibilitante de poder, então no seu adquirir poder encontra-se uma espécie de efeito. IV
Todo o efeito exige contudo (segundo o princípio do fundamento) uma causa. IV
Portanto o princípio do fundamento é legítimo apenas na medida em que Deus existir. IV
Porém Deus só existirá na medida em que o princípio do fundamento for legítimo. IV
Daquilo que se trata somente e de imediato, continua a ser o ponto de vista: o princípio do fundamento é até aqui o princípio todo possibilitante, como o fundamento segundo a versão rigorosa do princípio fundamental exige que aquilo que é, seja em consequência de, isto é, através do cumprimento executado expressamente da reivindicação do fundamento. IV
É legítimo não perder de vista daqui em diante, que na primeira versão rigorosa do princípio do fundamento se manifesta o carácter de reivindicação do fundamento. IV
Ela apoia-se por conseguinte, sobre o princípio fundamental do fundamento a ser entregue. IV
Ele é o princípio do fundamento. IV
O espantoso permanece contudo, que nós aqui nunca tenhamos vindo ao encontro do princípio do fundamento. IV
Deste modo portanto a afirmação de que a Universidade se apoia sobre o princípio do fundamento, seria uma asserção exagerada e extravagante. IV
No princípio, a reivindicação da entrega do fundamento fala para todas as afirmações, para cada dito. IV
De onde fala esta reivindicação do fundamento à sua entrega? Encontra-se esta reivindicação na essência do fundamento mesmo? Antes que nós nos alonguemos tanto a interrogar, limitemo-nos a que, primeiramente, nos perguntemos a nós próprios, se escutamos a reivindicação à entrega do fundamento. IV
Sim – pois nós temos no ouvido recentemente com muita pressão a reivindicação à entrega do fundamento. IV
Nós movemo-nos em toda a parte na área de irradiação da reivindicação à entrega do fundamento, e sentimos ao mesmo tempo uma incomum dificuldade em prestarmos atenção expressamente a esta reivindicação, para no seu interior percebermos a linguagem que ela propriamente fala. IV
Para a audição da reivindicação que a entrega do fundamento exige, não existem quaisquer aparelhos. IV
Efectivamente, os aparelhos testemunham, através da sua existência, testemunhando as existências daquilo que os aparelhos registam, que o magno princípio do fundamento desenvolve agora a sua aquisição de poder de um modo inaudito até ao presente. IV
A superação ocorre através de um avanço para uma dissolução das contradições numa unidade, que é apropriada para sustentar o aparentemente contraditório, isto é, para lhe dar um fundamento. IV
No arrebatamento do conceber através de e para fora das contradições rege a reivindicação à entrega do fundamento apropriado. IV
A reivindicação à entrega do fundamento, é para as ciências o elemento, em cujo contexto a sua representação se move como o peixe na água e o pássaro no ar. IV
Nós somos apenas os contemporâneos que somos, na medida em que passamos pela magna reivindicação à entrega do fundamento. IV
É para que pensemos literal e objectivamente que o singular desencadeamento da reivindicação à entrega (Zustellung) do fundamento ameaça tudo o que é pátrio (Heimische) do homem e lhe rouba qualquer fundamento e solo para um enraizamento, isto é, para aquilo a partir do qual até agora cresceu cada uma das grandes Eras da Humanidade, cada espírito aberto para o mundo, cada formação da figura humana. IV
Assim evidencia-se uma situação extremamente estranha do homem moderno, uma tal que vai contra todas opiniões habituais das representações quotidianas, na qual nós vagueamos como cegos e surdos: a reivindicação do princípio magno do fundamento a ser entregue retira ao homem contemporâneo o enraizamento. IV
Isto é um enigmático contraste entre a reivindicação à entrega do fundamento e a perda. IV
É legítimo perguntar, em que medida neste jogo, nele participa, o inaparente reinado do magno princípio do fundamento. IV
É legítimo observar em que região nós nos detemos, quando nós ponderadamente aprofundamos o princípio do fundamento. IV
Leibniz vislumbrou o princípio do fundamento como um dos princípios supremos. V
Leibniz encontrou para o princípio do fundamento: nihil est sine ratione, nada é sem fundamento, a versão rigorosa do principium reddendae rationis. V
Na ratio reddenda o fundamento demonstra-se no carácter da reivindicação à entrega. V
Nós falamos de uma versão rigorosa do princípio do fundamento porque ela se adapta exactamente àquele carácter do fundamento, que se revelou primeiramente no pensamento de Leibniz e da sua época. V
Todavia, a versão rigorosa do principium rationis até aqui comentada, também no sentido de Leibniz, não é ainda a versão perfeita do princípio do fundamento. V
Neste tratado, diz ele o seguinte, quase no fim de um dos princípios estabelecidos sobre o movimento considerado abstractamente: pendet ex nobilissimo illo (para completar: principio) Nihil est sine ratione; «ele (ou seja, o princípio considerado sobre o movimento abstracto) depende daquele mais conhecido e simultaneamente mais insigne princípio: Nada é sem fundamento». V
Leibniz pressupõe aqui a versão tradicional do princípio do fundamento como geralmente conhecida e admitida, e atribui-lhe contudo, ao mesmo tempo, um papel extraordinariamente dominante. V
O princípio do fundamento é o principium nobilissimum; ele é o mais nobre princípio. V
Leibniz escreve na passagem mencionada: id, quod dicere soleo, nihil exist er e nisi cujus reddi potest ratio existentiae sufficiens, «(o principio), que eu costumo dizer (na forma), nada existe, cujo fundamento suficiente de existência não possa ser entregue». V
O fundamento, que pretende a sua entrega, exige simultaneamente, que ele seja suficiente enquanto fundamento, isto é, que baste plenamente. V
O fundamento (ratio) está relacionado como causa (causa) com o efeito (efficere); o fundamento em si mesmo deve ser suficiente (sufficiens, sufficere). V
Que na proximidade do princípio do fundamento a língua como por moto próprio fale de um efficere, sufficere, perficere, isto é de um multiforme facere, fazer, de um pro-duzir e en-tregar, não é certamente um acaso. V
A epígrafe do princípio do fundamento pensada rigorosa e perfeitamente, reza para Leibniz: principium reddendae rationis sufficientis (Monadologie § 32), o princípio fundamental do fundamento suficiente a ser entregue. V
Nós podemos também dizer: O princípio do fundamento competente. V
Aí, onde como no caso da descoberta e definição leibniziana do princípio do fundamento suficiente, vem à luz um princípio magno, o pensamento e a concepção atingem, segundo todos os pontos de vista essenciais, um movimento de tipo novo. V
Isso é o modo do pensamento moderno, no qual nós próprios nos detemos quotidianamente, sem que sintamos e reparemos ainda expressamente na reivindicação do fundamento à entrega em toda a representação. V
A reivindicação à entrega do fundamento suficiente para tudo o que é concebido, expressa-se naquilo, que hoje se tomou objecto sob o nome de atômico e energia atômica. V
Para um mundo, em que o objectual (Gegenständige) deve retroceder perante um consistente (Ständigen) de outro género, o principium grande, o magno princípio, o princípio do fundamento não perde de algum modo o seu poder. V
O poder do fundamento competente a ser entregue para a estabilidade (Beständigung) e segurança de tudo começa, pelo contrário, só agora a desenvolver-se no extremo. V
O facto de se darem as exposições de arte de estilo moderno, tem mais a ver com o magno princípio do fundamento, do fundamento a ser entregue, do que aquilo que primeiramente julguemos. V
A referência deveria orientar-nos na região, a partir da qual o princípio do fundamento nos dirige a palavra, quando nós, questionantes, dele nos aproximamos. V
Perseveremos neste andamento do pensamento, então veremos dentro em breve mais claramente algo de duas maneiras: por um lado, que o nosso representar corrente técnico-científico não é suficiente para atingirmos a região do princípio do fundamento, e uma vez no seu interior, termos dela algo à vista; por outro, que também o ensino filosófico dos supremos princípios fundamentais como os princípios imediatamente esclarecedores se desvia perante as perguntas decisivas do pensamento. V
Pertence ao carácter de princípio do princípio do fundamento, que o princípio fundamental permita duas versões. V
Até aqui tem parecido que a versão vulgar e abreviada não é apropriada para introduzir uma discussão frutuosa do princípio do fundamento. V
Em compensação, a versão rigorosa já nos proporcionou um visionamento importante no carácter de reivindicação do fundamento, na ratio como ratio reddenda. V
Se este carácter, contudo, pertence simplesmente à essência do fundamento, ou se ele apenas diz respeito ao modo, pelo qual a essência do fundamento se revela numa determinada era, deverá permanecer em aberto. V
Pois também a versão rigorosa do princípio do fundamento permite uma forma abreviada, de forma que subitamente a versão vulgar e a rigorosa do princípio aparecem como iguais na essência. V
O aparentemente claro princípio do fundamento torna-se de novo túrbido. V
Em que medida – é legítimo reflectir agora sobre isso, antes de discutirmos de imediato o princípio do fundamento. V
O princípio do fundamento diz o seguinte, de acordo com a interpretação rigorosa: nenhuma verdade, isto é segundo Leibniz, nenhum princípio correcto é sem o fundamento que necessariamente lhe deve ser entregue. V
De que modo é que a versão rigorosa do princípio do fundamento, do principium reddendae rationis, se permite também ser reproduzida em uma versão abreviada? Quando o nosso representar se vê remetido para entregar o fundamento correspondente ao seu representado, sobre aquilo e dentro daquilo onde o representado permanece seguro como ob-jecto, então é porque a representação procura o fundamento a ser entregue. V
Isto acontece, quando a representação pergunta: porque é que isto é representado e porque é isto assim, como isto é? No porquê? perguntamos pelo fundamento. V
A versão rigorosa do princípio do fundamento «nada é sem o fundamento a ser entregue» pode por essa razão ser vertido na forma: nada é sem porquê. V
Coloquemos lado a lado a forma abreviada de ambas as versões, e então elas ganharão uma agudeza singular, que nos autoriza uma visão ainda mais clara sobre o princípio do fundamento. V
Ele reza uma vez: nada é sem fundamento. V
Neste campo, segundo a frase do poeta, o princípio do fundamento não é válido. V
Nós não precisamos sequer, para a comprovação de que o crescimento das plantas, por comparação com o aforismo de Angelus Silesius, tem o seu porquê, isto é tem o seu necessário fundamento, de incomodar a Ciência. V
Porque? Não nomeia esta palavra a relação com um fundamento, ao atraí-lo, por assim dizer? A rosa – sem porquê e contudo não sem porque. V
Porquê» é a palavra para a pergunta pelo fundamento. V
O «porque» contém a referência respondente ao fundamento. V
O porquê busca o fundamento. V
O porque traz o fundamento. V
Diferente é, em conformidade com isto, o modo pelo qual a relação com o fundamento é representado. V
No porquê a relação com o fundamento é aquela do buscar. V
No porque a relação com o fundamento é aquela do alegar. V
No entanto, para onde quer que as diferentes relações respectivamente vão, o fundamento permanece, assim parece, o mesmo. V
Na medida em que a primeira parte do primeiro verso nega a presença do fundamento, mas a segunda parte do mesmo verso afirma terminantemente o subsistir do fundamento através do «porque», apresenta-se afinal uma contradição, isto é uma simultânea afirmação e negação do mesmo, quer dizer, do fundamento. V
Afinal, o fundamento que o «porquê» busca e o que o «porque» alega, é o mesmo fundamento? A resposta dá-no-la o segundo verso do dito. V
Angelus Silesius não pretende desmentir, que o florescer da rosa tem um fundamento. V
Os fundamentos, que como destinação de-terminam (be-stimmen) essencialmente o homem, têm origem na essência do fundamento. V
Por isso são sem fundo (ab-grundig) estes fundamentos (comparar com o que adiante se diz sobre as outras tonalidades do princípio do fundamento). V
O fundamento do seu florescer não necessita de lhe ser primeiro e expressamente entregue. V
Como este se relaciona com o fundamento, vem à luz no segundo verso do aforismo. V
A rosa é a rosa, sem que uma reddere rationem, uma entrega do fundamento, tivesse de pertencer ao seu ser-rosa. V
Apesar disso a rosa nunca é sem fundamento. V
A relação da rosa com aquilo que o princípio do fundamento diz, continua, assim parece, discrepante. V
A rosa é certamente sem porquê, mas afinal ela não é sem fundamento. « V
Sem porquê» e «sem fundamento» não são o mesmo. V
Mesmo assim a maneira como ela pertence a esta área de influência, é uma maneira própria e por isso diferente da maneira como nós, humanos, nos detemos na área de influência do princípio do fundamento. V
Nós meditamos agora apenas na frase: «A rosa é sem porquê;» meditamo-la atendendo à versão breve rigorosa do princípio do fundamento: nada é sem porquê. V
A rosa é, sem a entrega pesquisadora que olha em torno de si, dos fundamentos, com base nos quais ela floresce . XI
A quinta coisa principal tem a ver com a mudança de tonalidade no princípio do fundamento. XI
Por trás da mudança de tonalidade do mesmo princípio oculta-se o salto do princípio do fundamento como um princípio fundamental sobre o ente para o princípio do fundamento como um dizer do ser. XI
Pensemos inteiramente sobre a palavra de múltiplos sentidos «princípio», não apenas como afirmação, não apenas como dizer, não apenas como salto, mas simultaneamente ainda no sentido musical, e então ganharemos primeiro a relação perfeita com o princípio do fundamento. XI
Se entendermos a palavra «princípio» no sentido musical, então é válido para o nosso caminho através do princípio do fundamento, aquilo que uma vez Bettina v. XI
Na segunda, mas habitualmente pouco dita tonalidade, reza o princípio do fundamento: «Nada é sem fundamento». XI
As palavras agora acentuadas «é» e «fundamento» deixam ressoar uma unissonância entre ser e fundamento. XI
O que diz o princípio? Ele diz: ser e fundamento pertencem-se reciprocamente. XI
Isto significa: ser e fundamento «são» na essência o mesmo. XI
Nós dizemos: ser e fundamento: o mesmo, mas então ser e fundamento não são atirados juntos para o cinzento de uma vazia monotonia, de forma que discricionariamente se possa dizer em vez de ser também fundamento e em vez de fundamento também ser. XI
Pelo contrário, ambas as palavras nos dão diversas coisas que pensar, que nós à primeira vista também não coligimos, se bem que o princípio do fundamento reze na segunda tonalidade: «Nada é sem fundamento». XI
Isto quer dizer: no «é» rege fundamento. XI
Mas fundamento fundamenta assim que o seu fundamentado é aquele que é, quer dizer ente. XI
Quanto mais nitidamente mantivermos separados «ser» e «fundamento», tão mais decisivamente nos detemos a perguntar: como se encontram e se unem ser e fundamento? Em que medida diz uma verdade o princípio do fundamento na segunda tonalidade, cuja envergadura nós ainda mal podemos medir? Entretanto, há uma série de aulas que falamos sobre «ser» e sobre «fundamento», sem que tenhamos preenchido a mais urgente exigência, isto é de entender aquilo de que se fala incessantemente, tanto «ser» como «fundamento», através de noções rigorosas e assim garantir ao andamento da discussão previamente a necessária confiança. XI
Por que razão esta omissão? Ela vem daquilo de que se falou até agora, se nós nos recordarmos da história do ser e do princípio do fundamento como princípio fundamental supremo. XI
Falou-se de fundamento como ratio e como causa, como condição da possibilidade. XI
Do que obviamente não se falou de modo directo, mas que contudo algo disso se pôde e teve de mostrar indirectamente no caminho até aqui, foi o seguinte: aquilo que diferenciadamente se nomeia como «ser» e «fundamento» e numa tal nomeação é colocado sob uma certa luz, isso não permite a partir de si uma definição no sentido escolar da formação tradicional de conceitos. XI
Deverão então os nomes que por modos diversos, trazem «ser» e «fundamento» à discussão, deverá então o pensado que nós pensamos nos nomes historicamente diferentes para «ser» e «fundamento», divergir numa confusa dispersão? Absolutamente não; porque naquilo que historicamente retomado e reunido se exceptua como uma confusa variedade de concepções, revela-se à luz uma coincidência e uma simplicidade do destino do ser e em conformidade, uma genuína constância da história do pensamento e do seu pensado. XI
Aí, o estimulante e excitante do sempre novo e do sucesso, aqui o desalento do simples si-mesmo, que não permite qualquer sucesso, visto que nada pode suceder, porque o pensamento, na medida em que ele reflectir sobre o ser, se recorda no fundamento, isto é na sua essência como verdade do ser. XI
O que porém nomeia a palavra «fundamento» e os nomes correspondentes, deixa-se ainda mais dificilmente expor, sobretudo então quando nós também aí buscamos ter em vista o mesmo que é debatido nos nomes até aqui utilizados como fundamento, ratio, causa, causa primeira, condição da possibilidade. XI
No que respeita àquilo que é dado a reflectír através da palavra «fundamento» é legítimo o mesmo que foi observado sobre o compreender e dizer da palavra «ser». XI
Também a palavra «fundamento», frequentemente mencionada, foi compreendida de certo modo por todos nós nas aulas até aqui realizadas. XI
Por isso também pôde ser deixado para mais tarde, aquilo que nós agora não mais podemos passar por alto: o esclarecimento da palavra «fundamento» e dos nomes, que na história do pensamento nomeiam aquilo que na nossa língua em geral é assinalado pela palavra «fundamento». XI
É uma visão da correlação do que e como «ser» e «fundamento» «são» o mesmo. XI
Dito de outro modo: gostaríamos de ouvir o que o princípio do fundamento, como dizer sobre o ser, diz na segunda tonalidade. XI
Se perguntarmos, o que significa «fundamento», então primeiramente queremos dizer aquilo que a palavra significa; a palavra significa algo; ela dá-nos algo para ser entendido e certamente porque ela fala a partir de algo. XI
Conforme esta concepção habitual da palavra, segundo a qual ela tem um significado, encontramos vários significados para a palavra «fundamento». XI
Perguntemos pelo significado fundamental da palavra «fundamento», então com essa pergunta já teremos respondido, isto é mencionado, o que significamos por « fundamento», ou seja a base, o fundus, em que alguma coisa se apoia, está e jaz. XI
No caminho deste curso alcançamos uma paragem, onde o salto do princípio do fundamento como o princípio fundamental supremo sobre o ente no princípio do fundamento resulta num dizer do ser. XII
No percurso que deveria conduzir para a história do pensamento como destino do ser, falou-se permanentemente, porque era inevitável, de ser e fundamento. XII
A um tal projecto ficaria atribuído o poder coligir todas as definições essenciais de ser e fundamento equilibrada e uniformemente, e isto numa representação que pairasse através dos tempos. XII
Que lugar é esse? É aquele para onde nós, com a pergunta pelo princípio do fundamento, nos encontramos primeiramente a caminho, ao discutirmos o que diz o princípio na segunda tonalidade. XII
Este estar a caminho oferece-nos uma possibilidade, pelo menos aqui e acolá, de apreendermos em que sentido aquilo que ser e fundamento nomeiam, «é» o mesmo. XII
Nós perguntamos agora: o que significa fundamento? O que é isto, que nos faz pensar e que se chama a palavra «fundamento»? Uma palavra, diz-se, significa alguma coisa. XII
Entretanto observaremos aqui desde já, que esse significado de fundamento nos é decerto inteiramente familiar, mas afinal é ao mesmo tempo também abstracto, isto é extraído e solto da área da qual a palavra inicialmente diz o supracitado significado. XII
Fundamento designa por um lado a profundidade, por exemplo o fundo do mar, o fundo do vale, a pradaria, um terreno e um solo em depressão, situados profundamente; no sentido mais vasto significa a terra, o solo da terra. XII
Ainda mais primordialmente fundamento exprime ainda hoje na área linguística suabo-alemã tanto como humo. XII
Fundamento significa, pensado na totalidade, a área situada profundamente e que ao mesmo tempo sustenta. XII
De acordo com estas perspectivas, a linguagem do pensamento fala de essência do fundamento, de fundamento da formação, de fundamento do movimento, de fundamento da prova. XII
A relação do fundamento com a essência, formação, movimento e prova surge bastante cedo na história do pensamento, mesmo se ainda dispersa na sua particularidade. XII
Porém permanece uma questão, a saber, se quando se fala de fundamento da essência, fundamento da formação, fundamento do movimento, fundamento da prova, estas diferentes perspectivas têm origem no considerando do fundamento ou no considerando do ser. XII
Mas como, se ser e fundamento «são» o mesmo? De acordo com as perspectivas mencionadas, mas perseguindo-as mais radicalmente, Hegel utiliza com agrado, dado o seu extraordinário apuramento de ouvido para o mais íntimo pensar da linguagem, a expressão: ir até o fundo. XII
Mas com tais observações que facilmente se puderam acumular, ficamos pendentes na explicação da palavra isolada «fundamento». XII
Nós não avistamos ainda qualquer coisa do lugar, a partir do qual o princípio do fundamento fala, caso nós o ouçamos conforme a segunda tonalidade, que deixa ressoar uma co-pertança de fundamento e ser. XII
Esta ressonância ouvimo-la nós, ao reflectirmos que o princípio do fundamento, mais exactamente a sua ordenação como um princípio fundamental supremo por Leibniz, prepara aquela época histórico-ontológica, na qual o ser como a objectualidade marcada transcendentalmente se revela. XII
Reflictamos sobre isso, e então prestemos atenção ao seguinte: Aquilo que na nossa língua falada significa «princípio fundamental do fundamento», há a tradução abreviada da epígrafe principium reddendae rationis stifßcientis. XII
Fundamento é a tradução de ratio. XII
Foi demonstrado, decerto apenas por alusão, como a Crítica da Razão Pura, de Kant, corresponde à reivindicação do princípio do fundamento suficiente e dá expressão a esta correspondência na linguagem. XII
Mas «razão» assim como «fundamento» falam como traduções da palavra ratio. XII
Pensado historicamente, isto significa: a partir daquele pensamento de que a crítica da razão pura está no aclarar do princípio do fundamento suficiente, a palavra ratio diz com o seu dizer duplo e unido, que nomeia como coincidente a razão e o fundamento. XII
Correndo o perigo de uma aparência de exagero, poderemos até mesmo dizer: se no pensamento moderno a ratio não falasse na tradução, num sentido duplo como razão e como fundamento, então não haveria a Crítica da Razão Pura, de Kant, como delimitação das condições da possibilidade do objecto da experiência. XII
Assim deveria pois a verificação de que a palavra «fundamento» é a tradução de ratio, ter perdido a sua banalidade. XII
Somente de passagem, seja referido que a fonte clássica para uma visão da tradição destinada da ratio como fundamento e razão para o pensamento moderno, são os parágrafos 29 até 32 da «Monadologia» de Leibniz. « XII
«Fundamento» é a tradução de ratio. XII
Aquilo que «fundamento» designa e aquilo de que o princípio do fundamento diz, transmite por consequência aquilo que é experimentado e pensado no duplo unido dizer da ratio. XII
Para que isso não se fique por uma casual explicação de uma palavra, mantenhamos em vista a orientação do caminho; porque é legítimo obter em vista porque é que, e como, ser e fundamento «são» o mesmo. XII
Isto diz agora: é legítimo guardar e receber de volta na memória autêntica, na medida em que no início da história do ser a coincidência de ser e de fundamento se anuncia, e anuncia-se decerto para depois como essa coincidência permanecer durante muito tempo inaudível e impensada. XII
Na palavra «fundamento» fala a ratio e na verdade a partir do sentido duplo de razão e fundamento. XII
Ser um fundamento, caracteriza também aquilo que nós denominamos causa primordial, em latim causa; razão pela qual o princípio do fundamento, como tantas vezes referido, também reza: Nihil est sine causa. XII
Na sequência de uma longa tradição e habituação do pensamento e dizer, já não achamos mais nada de excitante, em que ratio nomeie simultaneamente razão e fundamento. XII
Pensando cuidadosamente, teríamos agora de admitir que aquilo que «fundamento» exprime, ou seja profundidade e terra, solo, tem de imediato muito pouco a ver com razão e perceber. XII
Entretanto ratio significa indiscutivelmente ao mesmo tempo razão e fundamento. XII
De onde provém este sentido duplo de ratio? A palavra latina ratio não significa originalmente nem razão, nem fundamento, mas outra coisa. XII
Esse outro, não obstante, não é assim tão totalmente diferente, que à palavra ratio lhe pudesse ficar vedado, falar posteriormente no duplo sentido de «razão» e «fundamento». XII
Traduzido Conforme ao que é costume, isto significa: «Chamo causa ao fundamento do efectuar, aquilo que é ponto de partida e resultado, que é o efectuado». XII
Assim é com efeito e felizmente, logo que afastamos de nós a precipitação cega com que traduzimos as palavras latinas por aquelas que nos são correntes: causa por causa primordial (Ursache), ratio por fundamento, efficere por efectuar, effectus por efectuado. XII
Na esfera do produzir para fora e fazer resultar está-se a falar de ratio, palavra que nós agora já não podemos mais traduzir por «fundamento» e «razão»; porque com isso obstruiriamos a nós próprios o caminho dentro do percurso do olhar, que doravante é legítimo respeitar. XII
O princípio do fundamento diz na segunda tonalidade: ser e fundamento: o mesmo. XII
A isso junta-se como o mesmo uma cunhagem correspondente destinada do fundamento, da ratio, da conta, da razão 6. XII
A ratio sufficiens, o único fundamento própria e unicamente suficiente, a summa ratio, a suprema razão para a calculabilidade geral, para o cálculo do Universo, é Deus. XII
O princípio do fundamento reza: nada é sem fundamento. XIII
Fundamento é a tradução de ratio. XIII
Que «fundamento» seja a tradução de ratio, quer dizer: a ratio transmitiu-se no fundamento, cuja tradição desde cedo fala num duplo sentido. XIII
A tradição de duplo sentido da ratio como fundamento e razão obtém de facto primeiro o seu carácter aí, onde o destino do ser define aquela época, que segundo a cronologia histórica se chama «moderna». XIII
Se, de modo diferente, ser e fundamento «são» o mesmo, então o moderno destino do ser também deverá transformar o antigo sentido duplo romano de ratio. XIII
Por muito que também o sentido de fundamento, isto é solo e terra, consiga permanecer distante do sentido de razão, isto é perceber, ouvir, no duplo sentido da ratio ambos os significados estão já prematuramente unidos, se bem que não expressamente ponderados na sua co-pertança. XIII
Mais convenientemente deveríamos dizer: naquilo que a ratio nomeia, estão traçadas ambas as direcções deste duplo sentido, razão e fundamento. XIII
Mas sempre segundo a conexão histórica do Ser, do qual a ratio fala mais tarde como razão e fundamento, tem o reddendum um outro significado. XIII
Não obstante, aquilo que em romano se chama ratio, transmitiu-se na concepção daquilo que modernamente «razão» e «fundamento» dizem. XIII
Mas em que medida pôde então a ratio no antigo sentido bifurcar-se, de modo a falar num sentido duplo, não só como fundamento mas também como razão? Em que medida ela pôde ir até aí, já se deverá ter tornado agora compreensível para os ouvintes atentos. XIII
É necessário entretanto ainda uma referência própria a este «em que medida»; porque nós falamos de uma bifurcação da ratio na ratio como razão e na ratio como fundamento. XIII
A expressão da bifurcação gostaria de dar a entender que ambas as palavras, «razão» e «fundamento» e o que elas dizem tendem a afastar-se, mas todavia se mantêm no mesmo tronco e raiz, razão pela qual elas também no seu tender a afastar-se ainda e justamente aí se relacionam uma com a outra. XIII
Aquilo assim posto por baixo, calculado, é como aquilo que é a causa, o existente, transportado, o calculado da conta; a ratio é por conseguinte a base, o solo, isto é o fundamento. XIII
Ratio é como conta: fundamento e razão. XIII
Nós tentamos pensar o princípio do fundamento como um dizer do ser. XIII
O princípio diz: ser e fundamento: o mesmo. XIII
Para reflectirmos sobre o dito, nós perguntamos: O que diz fundamento? A resposta reza: na palavra «fundamento» fala, transmitindo-se, a ratio, palavra que simultaneamente significa razão. XIII
A pergunta retrospectiva pelo que diz o princípio do fundamento como dizer do ser, transformou-se e reza agora: em que medida ratio e ser «são» o mesmo? Indicará a palavra bifurcada ratio, que agora fala representativamente e ao mesmo tempo com um sentido duplo pela palavra «fundamento», de todo uma pertença recíproca, isto é na coincidência com o ser? De imediato nada disso é visto na palavra bifurcada ratio. XIII
Nem uma ponta nem a outra da palavra bifurcada «conta», «razão» ‘, nem «fundamento» nem «razão» nomeiam imediatamente o ser. XIII
A pergunta na qual nós somos colocados através do princípio do fundamento, reza: em que medida ser e ratio «são» o mesmo? Em que medida se pertencem reciprocamente fundamento e razão (ratio) por um lado e ser pelo outro? . XIII
Do mesmo modo ratio fala como fundamento mas também como razão. XIII
O caminho da nossa pergunta está previamente sinalizado através da audição do princípio do fundamento. XIII
Por isso fomos do fundamento de regresso para a ratio. XIII
Assim como nas palavras fundamentais do pensamento moderno, razão e fundamento, se transmite a palavra bifurcada ratio, assim fala na palavra romana ratio uma palavra grega; ela chama-se logos. XIII
Consequentemente ouvimos o princípio do fundamento na segunda tonalidade só então histórica-ontologicamente e isto em simultâneo inicialmente, quando dizemos em grego o tema do princípio: tò auto (estin) einai te kai logos: O mesmo (é) einai e logos. XIII
Em que medida pertence este ser assim pensado reciprocamente ao fundamento e à ratio? Enquanto nós ainda deixarmos ficar a pergunta sob esta forma, ela permanecerá enredada e recusa qualquer sugestão de resposta. XIII
O que é que ela nos demonstra? Ela permite-nos saber o seguinte: fundamento e razão são a tradução, isto quer dizer agora a tradição histórica da bifurcada ratio. XIII
Por isto ser assim, não podemos nós pensar logos nem a partir das nossas concepções tardias de «fundamento» e «razão», nem também a partir do sentido do romano ratio. XIII
Mas por muito difícil que a tarefa pareça ser, permanece inevitável a sua realização, pressupondo que nós, entretanto, consideramos necessário ouvir aquilo que o princípio do fundamento diz propriamente, isto é na outra tonalidade. XIII
Entretanto ficamos a saber que o princípio do fundamento nos atribui a reivindicação, sob a qual a nossa era se encontra na história universal. XIII
Ela limita-se àquelas referências, que nos auxiliam a pensar histórica-ontologicamente, sobre o que diz o princípio do fundamento na segunda tonalidade: ser e fundamento: o mesmo. XIII
Nós dizemos: o solo, o fundamento. XIII
Ser e fundamento pertencem-se reciprocamente no logos. XIII
O logos nomeia esta pertença recíproca de ser e fundamento. XIII
Ele nomeia-a, na medida em que ele diz numa unidade: deixar existir como deixar abrir-se, abrir-se-a-partir-de-si: physis, ser; e: deixar existir como apresentar, cultivar o solo, fundar: fundamento. XIII
O logos nomeia sobretudo numa unidade ser e fundamento. XIII
Mas neste nomear permanece oculta a diferenciação em ser e em fundamento e com a diferença oculta-se a unidade de ambos. XIII
Apenas por um único momento histórico-ontológico elevado e talvez até mesmo supremo vem a unidade de ser e fundamento ao encontro da palavra, que se chama logos. XIII
Ela não deixa a unidade de ser e fundamento revelar-se enquanto tal. XIII
Agora poderia esperar-se que na sequência da história do pensamento a pertença recíproca de ser e fundamento atingisse cada vez mais a luz. XIII
Evidente é antes de mais nada a diferença entre ser e fundamento, mas pelo contrário não como uma diferenciação que como uma relação entre ser e fundamento remeta ambos para uma pertença recíproca. XIII
Ser e fundamento mostram-se apenas como diferentes no sentido do separado e do dividido. XIII
Porque contudo no oculto rege a unidade de ser e fundamento, os divididos não se desfazem na ausência de relação. XIII
Pelo contrário o fundamento é representado como algo diferente, não como ser, mas relacionado com aquilo que o ser determina a partir de si próprio, isto é o ente. XIII
De tal maneira rege no oculto a pertença recíproca de ser e fundamento. XIII
Ela não se revela nem a partir do ser e da sua matriz destinada, nem do fundamento e das suas formas ou mesmo nos pensamentos inteligíveis. XIII
Em vez disso algo se amplia naturalmente na história do pensamento, isto é aquilo que foi mencionado no início da primeira aula do curso: cada ente tem um fundamento. XIII
Em que medida? Até ao ponto em que o representar, como representar do ente no que respeita ao que ele é e eventualmente seja, tem o ser em vista e com isso, se bem que sem o seu conhecimento, o mesmo que fundamento. XIII
Quando mais tarde o princípio do fundamento é classificado, então ele não expressa mais nada além desta naturalidade. XIII
Assim o princípio do fundamento é válido então como uma lei do pensamento imediatamente intuível. XIII
De onde é que isso vem? Isso vem de que ser e fundamento «são» o mesmo, mas a sua pertença recíproca como tal permanece esquecida, isto é entendido em grego: oculta. XIII
Podemos traduzir correctamente esta expressão grega por: prestar contas, indicar o fundamento; mas aí não se pensa autenticamente grego. XIII
. XIII
Agora podemos ouvir o enunciado da retirada do ser mais claramente, o enunciado diz: ser oculta-se como ser, isto é na sua inicialmente destinada pertença recíproca com o fundamento como logos. XIII
Pelo contrário, o ser deixa-se revelar diferentemente, ao ocultar a sua essência, isto é o fundamento sob a forma de archai, aitiai da rationes, da causae, dos princípios, causas primordiais e dos fundamentos racionais. XIII
Na retirada, o ser lega estas configurações do fundamento, as quais contudo permanecem desconhecidas quanto à sua origem. XIII
Entretanto esse desconhecimento não é apreendido como tal; porque é conhecido por qualquer pessoa, que todo o ente tem um fundamento. XIII
Assim se remete pois o ser na retirada ao homem por um modo, através do qual ele oculta a origem da sua essência por trás do espesso véu do fundamento entendido racionalmente e das causas primordiais e suas configurações. XIII
O princípio do fundamento diz, escutado na segunda tonalidade: ser e fundamento: o mesmo. XIII
O princípio do fundamento na segunda tonalidade não é um princípio pensado metafisicamente, mas um princípio histórico-ontológico. XIII
A sua versão mais exacta deverá por esse motivo, rezar: inicialmente destinado o ser atribui-se como logos e isto quer dizer na essência do fundamento. XIII
Histórica-ontologicamente, inicialmente, ser e fundamento «são» o mesmo, e assim permanecem também, mas numa pertença recíproca, que se ramifica numa diferença historicamente transformável. XIII
Ao seguirmos a segunda tonalidade, já não pensamos mais o ser a partir do ente, senão que o pensamos como ser, isto é como fundamento, isto é não como ratio, não como causa primordial, não como fundamento racional, mas como um deixar existir concentrante. XIII
Ser e fundamento não são contudo uma indiferença vazia, mas o conteúdo oculto daquilo que, antes de tudo, se revela no destino do ser como história do pensamento ocidental. XIII
Nos primeiros comentários à segunda tonalidade do princípio do fundamento, disse-se: ser e fundamento: o mesmo. XIII
Ser «é», o que o seu nome inicial logos diz, destinadamente o mesmo com o fundamento. XIII
Na medida em que ser se desdobra como fundamento, não tem ele próprio um fundamento. XIII
Isto contudo não por que ele se funde a si próprio, mas porque qualquer fundamentação, também e justamente aquelas que o são através de si próprias, permanece desmedida em relação ao ser como fundamento. XIII
Do ser permanece o fundamento, isto é como fundamento primeiramente fundamentador, de fora e separado. XIII
Situe-se agora este enunciado tão só ao lado daquele dito primeiramente: ser e fundamento: o mesmo? Ou um até excluirá o outro? Assim parece de facto, quando nós pensamos segundo a regra da lógica habitual. XIII
Exprimido consequentemente: «ser e fundamento: o mesmo» tanto como: ser = fundamento. XIII
Como poderá então ainda ser válido o outro: ser: o sem-fundo? Contudo é justamente isso que se demonstra agora como o que deve ser pensado, isto é: ser «é» o sem-fundo na medida em que ser e fundamento: o mesmo. XIII
Na medida em que ser «é» fundar, e apenas nessa medida, não tem qualquer fundamento. XIII
Ouçamos o princípio do fundamento na outra tonalidade e meditemos sobre aquilo ouvido, então este meditar é um salto e decerto um salto de envergadura, que põe o pensamento em jogo com aquilo em que o ser como ser repousa, portanto não com aquilo em que se apoia como o seu fundamento. XIII
Ao ser de um ente, portanto também ao jogo, pertence então o fundamento. XIII
A essência do jogo é por conseguinte definida como dialéctica de liberdade e necessidade por toda a parte no raio de acção do fundamento, da ratio, da regra, das regras do jogo, do cálculo. XIII
A pergunta para a qual nos indica o salto na outra tonalidade do princípio do fundamento, reza: Deixa-se a essência do jogo definir convenientemente a partir do ser como fundamento, ou deveremos nós pensar ser e fundamento, ser como sem-fundo a partir da essência do jogo e certamente do jogo para que nós, mortais, somos trazidos, pois apenas somos nós quem mora na proximidade da morte, a qual como possibilidade mais extrema da existência (Daseins) alcança o mais elevado na clareira do ser e da sua verdade? A morte é a medida ainda impensada do incomensurável, isto é do jogo supremo no qual o homem trazido à terra, é posto. XIII
Mas não se tratará de um simples comportamento lúdico, quando nós agora na conclusão do curso sobre o princípio do fundamento, arrastamos os pensamentos quase violentamente para o jogo e a unidade de ser e fundamento com o jogo? Assim poderá parecer, enquanto nós ainda continuarmos a abstermo-nos de pensar histórica-ontologicamente, e isto quer dizer de nos confiarmos reflectidamente o vínculo resolúvel na tradição do pensamento. XIII
O caminho de pensamento do curso conduziu-nos a ouvirmos o princípio do fundamento na outra tonalidade. XIII
Isso exigiu de nós que perguntássemos: em que medida «são» ser e fundamento o mesmo? A resposta deu-se-nos no caminho de um regresso ao início do destino do ser. XIII
O caminho conduziu através da tradição segundo a qual, nas palavras «fundamento» e «razão» fala a ratio no duplo sentido da conta. XIII
Mas só quando nós reflectimos sobre o que no pensamento grego primevo logos diz para Heráclito, se tornou claro, que esta palavra nomeia ao mesmo tempo ser e fundamento, ambos a partir da sua pertença recíproca. XIII
Aquilo que Heráclito designa por logos diz ele ainda por outros nomes, que são expressões condutoras do seu pensamento: physis, o que se-abre-a-partir-de-si, que simultaneamente está presente como ocultar-se; kosmos, que em grego simultaneamente expressa ordem, injunção e ornamento, que como brilho e esplendor expõe à revelação; por fim Heráclito nomeia aquilo que se lhe atribui como logos como o mesmo de ser e fundamento: aion. XIII
Nada é sem fundamento. XIII
Ser e fundamento: o mesmo. XIII
Ser como fundamentado não tem qualquer fundamento, joga aquele jogo como o sem-fundo, que como destino nos proporciona ser e fundamento. XIII