====== GA65 – projeto do seer (Entwurf des Seyns) ====== Entwurf des Seyns Se tu colocares em um prato todas as coisas e o que se faz presente à vista, acrescentando aí as maquinações, nas quais o elemento cristalizado dessas coisas se acha solidificado, e se tu colocares em outro prato o **PROJETO DO SEER**, acrescentando aí o peso do caráter de jogado do projeto, para onde a balança se inclinará? Para o lado do que se acha presente à vista, a fim de muito rapidamente deixar que a impotência do projeto caia no interior do espaço do ineficaz. Todavia, quem é aquele que pesa nessa balança e o que é o que se encontra presente à vista e o que brama nas maquinações? Tudo isso nunca alcança a verdade do seer, mas dá apenas a aparência do fundamento e do incontornável, na medida em que se subtrai à verdade e gostaria de negar o seu elemento primeiro, a presença à vista, como algo nulo. (tr. Casanova; GA65: 121) O pensar. O visar do ser. O ser e a diferenciação em relação ao ente. O **PROJETO DO SEER**. O re-pensar do seer. A essenciação do seer. A história. O ser-aí. A linguagem e a saga. O “ente”. A questão transitória (por que é em geral o ente e não antes o nada?) A história do seer. O ponto de vista da história do seer. O incalculável. (tr. Casanova; GA65: 257) O **PROJETO DO SEER** só pode ser conquistado pelo próprio seer, e, além disso, é preciso que tenha sucesso um instante daquilo que se apropria do seer como acontecimento apropriador em meio ao acontecimento, daquilo que se apropria do ser-aí. (tr. Casanova; GA65: 262) Além disso, nós nos movimentamos, então, há muito tempo em um **PROJETO DO SEER**, sem que esse projeto tenha podido algum dia se tornar experimentável enquanto projeto. (A verdade do seer não era nenhuma pergunta possível.) (tr. Casanova; GA65: 262) Aqui também reside a razão pela qual nós, mesmo no interior da necessidade de experimentarmos (re-pensarmos) a verdade do seer, nos movimentamos ainda aparentemente em meio ao elemento re-presentacional. Nós concebemos o “ontológico”, ainda que, em verdade, isso aconteça como condição do “ôntico”, de qualquer modo apenas como um adendo ao “ôntico” e repetimos o “ontológico” (projeto do ente com vistas à entidade) uma vez mais como autoaplicação sobre ele mesmo: projeto da entidade como **PROJETO DO SEER** com vistas à sua verdade. De saída, não há absolutamente nenhum outro caminho para tornar compreensível em geral, provindo do círculo de visão da metafísica, a questão do ser como tarefa. Por meio desse procedimento, o seer mesmo é aparentemente transformado ainda em objeto e se alcança o contrário mais decidido daquilo que o impulso da questão do seer já abriu para si. “Ser e tempo”, porém, busca revelar justamente o “tempo” como o âmbito projetivo para o seer. Com certeza, mas se ele tivesse devido permanecer aí, então a questão do ser teria sido desdobrada enquanto questão e, com isso, enquanto o repensar do que há de mais questionável. Por isso, o importante era superar na passagem decisiva a crise da questão do ser de saída necessariamente estabelecida assim e, antes de tudo, evitar uma objetivação do seer; por um lado por meio da retenção da interpretação “temporal” do seer, e, ao mesmo tempo, por meio da tentativa de tornar “visível” a verdade do seer independentemente disso (Liberdade para o fundamento em “Da essência do fundamento”, mas precisamente na primeira parte desse ensaio se acha inteiramente retido o esquema ôntico-ontológico). A crise não tem como ser controlada por meio de um mero prosseguimento do pensamento na direção estabelecida da questão, mas o salto múltiplo na essência do seer mesmo precisou ser ousado, o que exigiu ao mesmo tempo uma inserção mais originária na história. A referência ao início para a clarificação da aletheia como um caráter essencial da própria entidade, a fundamentação da diferenciação entre ser e ente. O pensar tornou-se cada vez mais histórico, isto é, a diferenciação entre consideração historiológica e sistemática se tornou cada vez mais caduca e inadequada. (tr. Casanova; GA65: 262) A posição de transição precisa ter de maneira igualmente clara na meditação: o elemento tradicional do **PROJETO DO SEER** e o outro: o seer como projeto, por mais que a essência projetiva não possa mais se determinar da mesma maneira a partir do elemento representacional, mas precise se determinar a partir do caráter de apropriação em meio ao acontecimento do seer. (tr. Casanova; GA65: 262) O ser é condição do ente, que permanece preso, com isso, de antemão já como coisa (o subsistente que se presenta). O ser con-diciona o ente ou bem como sua causa (summum ens – demiourgos) ou como fundamento da objetualidade da coisa na re-presentação (condição de possibilidade da experiência ou de saída em geral como o “anterior” por força de sua constância e presentidade mais elevadas de acordo com a sua universalidade). Aqui, pensado em termos platônico-aristotélicos, o condicionar enquanto caráter do ser corresponde o mais diretamente possível ainda à sua essência inicial mais próxima (presentidade e constância), mas ela também não se deixa explicar. Por isso, ele permanece sempre de viés e destrói a originariedade e cautela do pensar grego, quando se reinterpreta esse elemento consonante com a causa ou mesmo o condicionar “transcendental” na relação visada de maneira grega entre ser e ente. Mas mesmo os modos postedores de con-dicionar o ente e transformá-lo em um ente tal por meio do ser são prelineados e exigidos naturalmente pela interpretação grega, na medida em que a entidade (idea) é o propriamente produzido (poioumenon) e, por isso, o que con-stitui e faz o ente; na medida em que, por outro lado e ao mesmo tempo, a idea é o nooumenon, o re-presentado enquanto tal, o que é anteriormente visto em todo representar. A metafísica nunca vai além desses modos de diferenciação entre ser e ente e da apreensão dessa ligação; sim, sua essência, na mistura desses modos dê pensar, é criar para si saídas e oscilar de um lado para o outro entre posições extremas, entre a incondicionalidade da entidade e a incondicionalidade do ente enquanto tal; a partir daí é possível atribuir aos títulos plurissignificativos “idealismo” e “realismo” um significado metafísico inequívoco. Uma consequência da apreensão metafísica do ser e do ente é a distribuição dos dois em áreas (regiões) e níveis, o que contém ao mesmo tempo o pressuposto para o desdobramento da ideia do sistema na metafísica. De maneira incomparável, em contrapartida, e nunca tangível em conceitos e modos de pensar metafísicos, temos o **PROJETO DO SEER** como acontecimento da apropriação, projeto esse que experimenta a si mesmo como jogado e se mantém distante daquela aparência de ser um produto. Aqui se desentranha o seer naquela essenciação, com base na qual a abissalidade faz com que os contra-postos (deuses e homem) e os querelantes (mundo e terra) alcancem em sua história originária a sua essência entre o seer e o ente e admitam a denominação conjunta do seer e do ente apenas como o que há de mais questionável e de mais cindido. (tr. Casanova; GA65: 268) Na medida, porém, em que os deuses e o homem ganham a contra-posição na indigência do seer, o homem é jogado para fora de sua posição até aqui, modernamente ocidental, sendo colocado em uma posição aquém de si mesmo em espaços de determinação completamente diversos, nos quais a animalidade tanto quanto a racionalidade não têm como assumir uma posição essencial, por mais que, no futuro, a constatação dessas propriedades junto ao homem presente à vista tenham a sua correção (ainda que seja sempre preciso perguntar quem são aqueles que acham algo assim correto e até mesmo constroem com vistas a tais correções “ciências” como a biologia e a doutrina das raças e estabelecem ao mesmo tempo com isso supostamente os fundamentos da “visão de mundo”; o que é sempre a ambição de toda e qualquer “visão de mundo”). Com o **PROJETO DO SEER** como acontecimento apropriador também se pressente pela primeira vez o fundamento e, com isso, a essência e o espaço essencial da história. A história não é nenhum privilégio do homem, mas é a essência do próprio seer. A história só se desenrola no entre da contraposição dos deuses e do homem como o fundamento da contenda de mundo e terra; e ela não é outra coisa senão o acontecimento da apropriação desse entre. A historiologia nunca alcança, por isso, a história. A diferenciação entre o seer e o ente é uma de-cisão tomada a partir da essência do próprio seer que se estende muito para além, uma de-cisão que só pode ser pensada assim. (tr. Casanova; GA65: 268) Segundo a determinação bem compreendida e até hoje válida do homem como animal rationale, a linguagem é dada com o homem e isso de maneira tão certa que se pode dizer mesmo na inversão que é apenas com a linguagem que o homem é dado. Linguagem e homem se determinam de modo alternante. Por meio do que isso se torna possível? As duas coisas são em certo aspecto o mesmo? E em que aspecto elas são o mesmo? Por força de seu pertencimento ao seer. O que significa isso: pertencer ao seer? O homem pertence enquanto um ente ao ente e está submetido, assim, à mais universal determinação de que ele é e de que ele é de tal e tal modo. A questão é que isso não distingue o homem enquanto homem, mas apenas o equipara enquanto ente a todo ente. O homem, porém, pode pertencer ao seer (não apenas ao ente), na medida em que ele cria a partir desse pertencimento e precisamente a partir dele a sua essência mais originária: o homem compreende o seer (cf Ser e tempo); ele é o guarda-posto do **PROJETO DO SEER**, a guarda da verdade do seer constitui isso a partir do seer e “apenas” a partir dessa essência concebida do homem. O homem pertence ao seer como aquele que é apropriado pelo próprio seer em meio ao acontecimento para a fundação de sua verdade. Assim apropriado, ele é entregue à responsabilidade do seer; ao mesmo tempo, tal responsabilidade remete a conservação e a fundação da essência do homem para aquilo que o homem precisa primeiro transformar para si em propriedade, aquilo com relação ao que ele precisa ser mais próprio e mais impróprio: para o ser-aí, o que significa a própria fundação da verdade, o a-bismo exposto e sustentado pelo seer (acontecimento apropriador). Como é, contudo, que a linguagem se comporta em relação ao seer? Se não podemos computar a linguagem como algo dado e, com isso, já estabelecido na essência, uma vez que o que importa é “encontrar” a essência, e se o seer mesmo é “mais essencial” do que a linguagem, na medida em que ela é tomada como um dado (ente), então a pergunta precisa ser formulada de outro modo. Como é que o seer se comporta em relação à linguagem? Mas mesmo assim a questão é ainda capaz de induzir em uma falsa interpretação, na medida em que aparece agora como mera inversão da relação anterior e a linguagem, por sua vez, é considerada como um dado, com o qual o seer entra em ligação. Como é que o seer se comporta em relação à linguagem – o que está em questão aqui é: como emerge na essenciação do seer a essência da linguagem? Com isso, porém, uma resposta já não é antecipada: justamente que a linguagem emerge do seer? Mas toda e qualquer autêntica questão acerca da essência, determinada como projeto a partir do que precisa ser projetado, antecipa a resposta. A essência da linguagem nunca pode ser determinada de outro modo senão por meio da denominação de sua origem. Por isso, não se pode fornecer definições da essência da linguagem e declarar a questão acerca de sua origem irrespondível. A questão acerca da origem encerra naturalmente em si a determinação essencial da origem e do próprio emergir. Emergir, contudo, significa: pertencer ao seer no sentido da questão por último colocada: como se essencia na essenciação do seer a linguagem? Que, contudo, essa ligação com o seer não seja em geral nenhuma exposição arbitrária, isso foi algo que a consideração prévia deixou claro. Pois, em verdade, aquela dupla ligação metafísica (só que não pensada de volta à origem) da linguagem com o ente enquanto tal e com o homem (como animal rationale, ratio – fio condutor da interpretação do ente com vistas à entidade, isto é, o ser) não indica outra coisa senão: a linguagem está inteiramente ligada ao ser; e isso precisamente nos aspectos, segundo os quais a metafísica a determina. Mas como a metafísica só é em geral a partir do impasse em relação ao seer o que ela é, precisamente essa ligação e completamente a sua concepção correta nunca pode alcançar o âmbito de seu questionamento. (tr. Casanova; GA65: 276)