====== GA5 – técnica ====== Technik Por mais que a referência à denominação que os gregos costumavam usar para o trabalho manual e para a arte com a mesma palavra (techne) seja comum e por mais que tal pareça evidente, continua, no entanto, a ser equívoca e superficial; pois techne não quer dizer nem ‘trabalho manual’ nem ‘arte’, nem, de modo nenhum, a **técnica** no sentido actual, nem significa, em geral, nunca um tipo de realização prática. Ora, de facto, a palavra “com-posição”, que foi usada mais tarde como palavra condutora para a essência da **técnica** moderna, é pensada a partir desta “com-posição” (e não a partir de estante e de montagem). A com-posição enquanto essência da **técnica** moderna provém do deixar-jazer-diante, do logos, experimentado de modo grego, da poiesis e da thesis gregas. Devemos de novo evitar entender “estabelecer” no sentido moderno e ao modo da conferência acerca da **técnica**, como “organizar” e fazer com que fique pronto . Um fenômeno de um nível igualmente importante é a **técnica** de máquinas. A **técnica** de máquinas é ela mesma uma transformação autônoma da prática, de tal modo que é esta que exige o emprego da ciência natural matemática. A **técnica** de máquinas permanece o rebento até agora mais visível da essência da **técnica** moderna, a qual é idêntica à essência da metafísica moderna. No entanto, não é aqui suficiente, por exemplo, afirmar a **técnica**, ou – a partir de uma atitude incomparavelmente mais essencial – colocar como absoluta a “mobilização total”, quando se reconhecer estar perante ela. Mesmo assim, a metafísica absoluta não é a causa daquilo que a seu modo se institui como a confirmação daquilo que se propicia na essência da **técnica**. Quando dentro da era da subjectidade, na qual se funda a essência da **técnica**, à consciência é contraposta a natureza enquanto ser, então esta natureza é apenas o ente enquanto objecto da objectualização **técnica** moderna, a qual agride indistintamente a consistência das coisas e dos homens. Quanto mais inequivocamente as ciências forem levadas para a sua essência **técnica** pré-determinada e para o seu cunho, tanto mais decididamente se aclara a pergunta pela possibilidade do saber reclamado na **técnica**, pelo seu modo, pelos seus limites, pelo seu direito. Na acomodação impensada a estes modos de representação, habituou-se já, desde há décadas, a referir o domínio da **técnica** ou a rebelião das massas como as causas da situação histórica da era, e a dissecar infatigavelmente a situação espiritual do tempo segundo tais perspectivas. A natureza aparece por todo o lado, porque disposta a partir da essência do ser, como o objecto da **técnica**. A instalação incondicionada do impor-se incondicional da elaboração propositada do mundo vai-se configurando necessariamente nos moldes do mando humano, num processo que surge da essência oculta da **técnica**. A ciência moderna e o estado totalizante constituem-se como consequências necessárias da essência da **técnica** e, igualmente, como os seus seguidores. No fundo, pretende-se que a essência da vida se deve entregar ela mesma à e-laboração **técnica**. Que se encontrem hoje em dia, e com todo o desplante, nos resultados e na posição da Física Atômica, oportunidades para provar a liberdade humana e para estabelecer uma nova teoria dos valores, eis aqui algo de significativo para a supremacia da representação **técnica**, cujo desenvolvimento há muito se desprendeu das opiniões e posições pessoais. A força dominadora inerente à essência da **técnica** revela-se, ainda, quando se tenta, em terrenos secundários e com a ajuda das valorações até hoje vigentes, domar a **técnica**, acabando-se, porém, por utilizar os meios técnicos, os quais são tudo menos formas exteriores. Isto porque, de todas as formas, a utilização de maquinaria e a fabricação de máquinas não constituem, só por si, a **técnica** ela mesma, mas apenas um instrumento que lhe é conforme, com vista ao estabelecimento da sua essência na objectividade da sua matéria-prima. Mais ainda, a transformação do homem em sujeito e do mundo em objecto é uma consequência do estabelecimento da essência da **técnica**, e não o contrário. Ao invés, um olhar sobre a totalidade íntegra do ente é susceptível de observar, a partir da invasão do progresso técnico, de que lado poderia surgir uma ultrapassagem da **técnica**, portadora de mais originalidade. As construções cegas, sem imagem, da produção **técnica** impedem o acesso ao aberto da conexão pura. Ela começou antes, com a essência não experimentada da **técnica**, que ameaçava já os nossos antepassados e as suas coisas. O homem que se impõe é o funcionário da **técnica**, independentemente de cada um pessoalmente o saber ou não, o querer ou não. O homem da idade da **técnica** está, nesta despedida, contra o aberto. Esta despedida não é uma despedida de… mas uma despedida contra… A **técnica** é a instalação incondicional, posta pelo impor-se do homem, do absoluto estar-desprotegido sobre o fondo da aversão que reina em toda a objectividade contra a conexão pura que atrai a si, enquanto centro inaudito do ente, todas as forças puras. A produção **técnica** é a organização da despedida. Como se pudesse haver, num qualquer compartimento anexo, uma espécie de estância separada do relacionamento essencial do homem, devido à vontade **técnica**, para com a totalidade do ente, estância essa que pudesse oferecer algo mais do que efêmeras escapadelas para os auto-enganos, das quais faria parte, entre outras, a fuga em direcção aos deuses gregos. O que ameaça o homem na sua essência é a opinião segundo a qual a produção **técnica** põe o mundo na ordem, ao passo que é precisamente esta maneira de pôr na ordem que nivela, na uniformidade da produção, qualquer ordo, i. Mas antes de tudo, a própria **técnica** impede qualquer experiência da sua essência. Pois, enquanto se desdobra plenamente, ela desenvolve nas ciências uma espécie de conhecimento, o qual permanece impedido de alguma vez aceder à esfera essencial da **técnica**, ou sequer de repensar a sua proveniência essencial. A essência da **técnica** apenas lentamente vem à luz do dia. A imposição da objectivação **técnica** é a permanente negação da morte. A elaboração calculista da **técnica** é um “fazer sem imagem” (Elegia IX). A organização **técnica** da esfera pública à escala mundial, através da radiodifusão e da já ultrapassada imprensa, é a verdadeira forma de hegemonia do historicismo. O investigador é impelido necessariamente para o círculo da figura essencial de **técnico**, num sentido essencial. Esta homogeneidade torna-se o mais seguro instrumento do domínio completo, isto é, do domínio **técnico** sobre a Terra. Esta metafísica não se desmoronou ante a metafísica dos séculos XIX e XX; bem pelo contrário, o mundo **técnico** moderno, na sua exigência incondicionada, não é outra coisa que a consciência natural, a qual, segundo a modalidade do seu visar, realiza a produtibilidade, que se assegura a si mesma, de todo o ente na imparável objectivação de tudo e de todos. O lugar daquilo que nos ofereceu, a partir do seu interior, o conteúdo mundano das coisas outrora guardadas, vai sendo ocupado, cada vez mais depressa, cada vez mais irreverentemente e mais completamente, pela objectualidade do domínio **técnico** sobre a terra. Este dia é a noite do mundo remodelada como dia **técnico**.