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SZ:55-56 – fatualidade e facticidade
quarta-feira 12 de julho de 2017
Castilho
O “ser junto” ao mundo como existenciário nunca significa algo assim como coisas que meramente sobrevêm juntas como subsistentes. Não se dá algo assim como “o estar-um-ao-lado-do-outro” de um ente denominado “Dasein” e de outro ente denominado “mundo”. E certo que o estarem juntas duas coisas subsistentes nós costumamos exprimir dizendo, por exemplo, que “a mesa está ‘junto’ à porta, a cadeira’ ‘toca’ a parede”. Rigorosamente, nunca se pode falar aqui de “tocar”, não decerto porque afinal, após um exame mais exato, é sempre possível constatar um espaço intervalar entre a cadeira e a parede, mas porque a cadeira por princípio não pode tocar a parede, mesmo não havendo espaço intermediário. Um pressuposto para que isso viesse a se dar seria que a parede pudesse vir de encontro “para” a cadeira. Um ente só pode tocar outro ente subsistente dentro do mundo se tem por natureza o modo-de-ser do ser-em – se, com seu ser-“aí”, algo assim como um mundo já lhe é descoberto a partir do qual um ente possa se manifestar no contato, para assim se tornar acessível em sua subsistência. Dois entes que subsistem dentro do mundo e que, além disso, são em si mesmos desprovidos-de-mundo nunca podem se tocar, nenhum deles pode ser junto ao outro. O acréscimo “são além disso desprovidos de mundo” não pode ser omitido, pois também um ente que não é desprovido-de-mundo, por exemplo, o Dasein ele mesmo é subsistente “em” o mundo, e para falar de modo mais preciso: com certo direito ele pode ser apreendido, dentro de certos limites, só como subsistente. Para isso é necessário fazer total abstração, ou seja, não ver a constituição existenciária do ser-em necessário. Entretanto, essa possível apreensão do “Dasein” como um subsistente e que não faz senão subsistir não deve ser confundida com um modo de “subsistência” que é próprio exclusivamente do Dasein. Essa subsistência não é acessível se se faz abstração das específicas estruturas-do-Dasein, mas somente o é no prévio entendimento delas. O Dasein entende o seu ser mais-próprio, no sentido de uma certa “subsistência fatual” (Cf. §29). E, no entanto, a “fatualidade” dos fatos do próprio Dasein é de fundamento ontologicamente diverso da ocorrência de uma espécie mineral. A fatualidade do Faktum Dasein, como o modo em que todo Dasein é cada vez, nós a denominamos factualidade. A complicada estrutura dessa determinidade-do-ser só pode ser apreendida ela mesma como problema, à luz das já elaboradas constituições-fundamentais existenciárias do Dasein. O conceito da factualidade contém em si: o ser-no-mundo de um ente “do-interior-do-mundo”, de tal modo que esse ente pode se entender como preso em seu “destino” ao ser do ente que-lhe-vem-de-encontro no interior de seu próprio mundo. [STCastilho:175, 177]
Schuback
Como existencial, o "ser-junto" ao mundo nunca indica um simplesmente dar-se em conjunto de coisas que ocorrem. Não há nenhuma espécie de "justaposição" de um ente chamado "presença" a um outro ente chamado "mundo". Por vezes, sem dúvida, costumamos exprimir com os recursos da língua o conjunto de dois entes simplesmente dados, dizendo: "a mesa está junto à porta", "a cadeira ’toca’ a parede". Rigorosamente, nunca se poderá falar aqui de um "tocar", não porque sempre se pode constatar, num exame preciso, um espaço entre a cadeira e a parede, mas porque, em princípio, a cadeira não pode tocar a parede mesmo que o espaço entre ambas fosse igual a zero. Para tanto, seria necessário pressupor que a parede viesse ao encontro "da" cadeira. Um ente só poderá tocar um outro ente simplesmente dado dentro do mundo se, por natureza, tiver o modo do ser-em, se, com sua presença, já se lhe houver sido descoberto um mundo. Pois a partir do mundo o ente poderá, então, revelar-se no toque e, assim, tornar-se acessível em seu ser simplesmente dado. Dois entes que se dão simplesmente dentro do mundo e que, além disso, são em si mesmos destituídos de mundo, nunca podem "tocar"-se, nunca um deles pode "ser e estar junto ao" outro. Não pode faltar o acréscimo: "e, além disso, são em si mesmos destituídos de mundo", porque também o ente que não é destituído de mundo, por exemplo, a própria presença, se dá simplesmente "no" mundo ou, mais precisamente, também pode ser apreendido, com certa razão e dentro de certos limites, como algo simplesmente dado. Para isso, no entanto, é preciso que se desconsidere inteiramente, isto é, que não se veja a constituição existencial do ser-em. Mas não se deve confundir essa possibilidade de apreender a "presença" como um dado e somente como simples dado com um modo de "ser simplesmente dado", próprio da presença. Pois este ser simplesmente dado não é acessível quando se desconsideram as estruturas específicas da presença. Ele só se torna acessível em sua compreensão prévia. A presença compreende o [101] seu ser mais próprio no sentido de um certo "ser simplesmente dado fatual" [1]. Na verdade, a "fatualidade" do fato da própria presença é, em seu ser, fundamentalmente diferente da ocorrência fatual de uma espécie qualquer de pedras. Chamamos de facticidade o caráter de fatualidade do fato da presença em que, como tal, cada presença sempre é. À luz da elaboração das constituições existenciais básicas da presença, a estrutura complexa desta determinação ontológica só poderá ser apreendida em si mesma como problema. O conceito de facticidade abriga em si o ser-no-mundo de um ente "intramundano", de maneira que este ente possa ser compreendido como algo que, em seu "destino", está ligado ao dos entes que lhe vêm ao encontro dentro de seu próprio mundo. [STSchuback:101-102]
Vezin
L’« être après » le monde en tant qu’existential n’a jamais en vue quelque chose comme l’être-réuni-là-devant de choses qui apparaissent. Il n’y a rien de tel que la « juxtaposition » d’un étant nommé «Dasein» avec un autre étant nommé « monde ». Quand deux étants sont réunis là-devant, nous avons, certes, coutume d’en parler en recourant parfois à des expressions comme « la table est “ près de ” la porte », « la chaise “ touche ” le mur ». D’un « contact » au sens strict, on ne peut jamais parler et cela non pas parce qu’en vérifiant de façon plus précise on finirait toujours par constater un espace intercalaire entre chaise et mur mais parce que, par principe, et quand bien même l’espace intercalaire serait égal à zéro, la chaise ne peut toucher le mur. Pour cela il faudrait que « pour » la chaise le mur puisse se rencontrer. Qu’un étant puisse toucher un étant là-devant à l’intérieur du monde, ce n’est possible que s’il a, de fond en comble, le genre d’être de l’être-au – donc que si avec son Da-sein lui est déjà dévoilé quelque chose de tel que le monde à partir duquel un étant puisse se manifester dans le contact et devenir ainsi accessible dans son être là-devant. Deux étants qui sont là-devant à l’intérieur du monde et qui, en outre, sont en eux-mêmes sans-monde, ne peuvent jamais se « toucher », aucun des deux ne peut « être après » l’autre. La précision : « qui sont en outre sans-monde » est indispensable à ajouter car même l’étant qui n’est pas sans-monde, par exemple le Dasein lui-même, est là-devant « dans » le monde ; ou pour être plus précis : il peut avec un certain droit et dans certaines limites être conçu comme étant seulement là-devant.
Cela nécessite qu’on s’abstienne de tout regard sur la constitution existentiale de l’être-au à moins qu’on ne la voie pas. Cette possibilité de concevoir le « Dasein » comme un étant là-devant et qui n’est encore que là-devant ne doit cependant pas être confondue avec une sorte d’« être-là-devant » que le Dasein a en propre. Cet être-là-devant ne devient pas accessible en s’abstenant de regarder les structures spécifiques du Dasein, mais au contraire une fois qu’elles ont été préalablement entendues. Le Dasein entend son être le plus propre au sens d’un certain « être là-devant à l’état de fait » (Cf. § 29). Et pourtant l’« état-de-fait » dont relève le fait qu’est mon propre Dasein diffère ontologiquement de façon fondamentale de l’apparition à l’état de fait d’un minéral quelconque. L’état-de-fait du fait brut nommé Dasein, qu’est à chaque fois tout Dasein, nous l’appelons sa factivité. La structure compliquée de cette détermination d’être n’est elle-même d’abord saisissable comme problème qu’à la lumière de constitutions fondamentales existentiales du Dasein déjà élaborées. Le concept de factivité inclut en lui : l’être-au-monde d’un étant « de l’intérieur du monde » de telle sorte que cet étant puisse s’entendre comme embarqué dans son « destin » avec l’être de l’étant qui se rencontre avec lui à l’intérieur du monde qui est le sien. [GA2FV:88-89]
Macquarrie
As an existentiale, ‘Being alongside’ the world never means anything like the Being-present-at-hand-together of Things that occur. There is no such thing as the ‘side-by-side-ness’ of an entity called ‘Dasein’ with another entity called ‘world’. Of course when two things are present-at-hand together alongside one another, we are accustomed to express this occasionally by something like ‘The table stands “by” [‘bei’] the door’ or ‘The chair “touches” [‘berührt’] the wall’. Taken strictly, ‘touching’ is never what we are talking about in such cases, not because accurate reexamination will always eventually establish that there is a space between the chair and the wall, but because in principle the chair can never touch the wall, even if the space between them should be equal to zero. If the chair could touch the wall, this would presuppose that the wall is the sort of thing ‘for’ which a chair would be encounterable. An entity present-at-hand within the world can be touched by another entity only if by its very nature the latter entity has Being-in as its own kind of Being — only if, with its Being-there [Da-sein], something like the world is already revealed to it, so that from out of that world another entity can manifest itself in touching, and thus become accessible in its Being-present-at-hand. When two entities are present-at-hand within the world, and furthermore are worldless in themselves, they can never ‘touch’ each other, nor can either of them ‘be’ ‘alongside’ the other. The clause ‘furthermore are worldless’ must not be left out; for even entities which are not worldless — Dasein itself, for example — are present-at-hand ‘in’ the world, or, more exactly, can with some right and within certain limits be taken as merely present-at-hand. To do this, one must completely disregard or just not see the existential state of Being-in. But the fact that ‘Dasein’ can be taken as something which is present-at-hand and just present-at-hand, is not to be confused with acertainway of‘presence-at-hand’ which is Dasein’s own. This latter kind of presence-at-hand becomes accessible not by disregarding Dasein’s specific structures but only by understanding them in advance. Dasein understands its ownmost Being in the sense of a certain ‘factual Being-present-at-hand’. And yet the ‘factuality’ of the fact [Tatsache] of one’s own Dasein is at bottom quite different ontologically from the factual occurrence of some kind of mineral, for example. Whenever Dasein is, it is as a Fact; and the factuality of such a Fact is what we shall call Dasein’s “facticity”. This is a definite way of Being [Seinsbestimmtheit], and it has a complicated structure which cannot even be grasped as a problem until Dasein’s basic existential states have been worked out. The concept of “facticity” implies that an entity ‘within-the-world’ has Being-in-the-world in such a way that it can understand itself as bound up in its ‘destiny’ with the Being of those entities which it encounters within its own world. [BTMR :81-82]
Original
Das »Sein bei« der Welt als Existenzial meint nie so etwas wie das Beisammen-vorhanden-sein von vorkommenden Dingen. Es gibt nicht so etwas wie das »Nebeneinander« eines Seienden, genannt »Dasein«, mit anderem Seienden, genannt »Welt«. Das Beisammen zweier Vorhandener pflegen wir allerdings sprachlich zuweilen z. B. so auszudrücken: »Der Tisch steht »bei« der Tür«, »der Stuhl »berührt« die Wand«. Von einem »Berühren« kann streng genommen nie die Rede sein und zwar nicht deshalb, weil am Ende immer bei genauer Nachprüfung sich ein Zwischenraum zwischen Stuhl und Wand feststellen läßt, sondern weil der Stuhl grundsätzlich nicht, und wäre der Zwischenraum gleich Null, die Wand berühren kann. Voraussetzung dafür wäre, daß die Wand »für« den Stuhl begegnen könnte. Seiendes kann ein innerhalb der Welt vorhandenes Seiendes nur berühren, wenn es von Hause aus die Seinsart des In-Seins hat — wenn mit seinem Da-sein schon so etwas wie Welt ihm entdeckt ist, aus der her Seiendes in der Berührung sich offenbaren kann, um so in seinem Vorhandensein zugänglich zu werden. Zwei Seiende, die innerhalb der Welt vorhanden und überdies an ihnen selbst weltlos sind, können sich nie »berühren«, keines kann »bei« dem andern »sein«. Der Zusatz: »die überdies weltlos sind«, darf nicht fehlen, weil auch Seiendes, das nicht weltlos ist, z. B. das Dasein selbst, »in« der Welt vorhanden ist, genauer gesprochen: mit einem gewissen Recht in gewissen Grenzen als nur Vorhandenes aufgefaßt werden kann. Hierzu ist ein völliges Absehen von, bzw. Nichtsehen der existenzialen Verfassung des In-Seins notwendig Mit dieser möglichen Auffassung des »Daseins« als eines Vorhandenen und nur noch Vorhandenen darf aber nicht eine dem Dasein eigene Weise von »Vorhandenheit« zusammengeworfen werden. Diese Vorhan-denheit wird nicht zugänglich im Absehen von den spezifischen Daseinsstrukturen, sondern nur im vorherigen Verstehen ihrer. Dasein versteht sein eigenstes Sein im Sinne eines gewissen »tatsächlichen Vorhandenseins«. (Vgl. § 29) Und doch ist die »Tatsächlichkeit« der Tatsache des eigenen Daseins ontologisch grundverschieden vom tatsächlichen Vorkommen einer Gesteinsart. Die Tatsächlichkeit des Faktums Dasein, als welches jeweilig jedes Dasein ist, nennen wir seine Faktizität. Die verwickelte Struktur dieser Seinsbestimmtheit ist selbst als Problem nur erst faßbar im Lichte der schon herausgearbeiteten existenzialen Grundverfassungen des Daseins. Der Begriff der Faktizität beschließt in sich: das In-der-Welt-sein eines »innerweltlichen« Seienden, so zwar, daß sich dieses Seiende verstehen kann als in seinem »Geschick« verhaftet mit dem Sein des Seienden, das ihm innerhalb seiner eigenen Welt begegnet. [SZ :55-56]
Ver online : FAKTIZITÄT