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GA62:346-347 – aspectos da interpretação
quarta-feira 13 de novembro de 2024
O conteúdo [Sachgehalt] de toda interpretação, [1] isto é, o objeto temático no modo como está sendo interpretado, só é capaz de falar adequadamente por si mesmo quando a situação hermenêutica dada — à qual toda interpretação é relativa — é disponibilizada em distinção suficiente e clara.
Toda interpretação, cada uma de acordo com um campo específico e uma reivindicação de conhecimento, tem o seguinte:
(1) um ponto de vista [Blickstand] [2] que é mais ou menos expressamente apropriado e [347] fixado;
(2) uma direção de visão [Blickrichtung] que é motivada pelo ponto de vista e dentro da qual o “como-que” [als-was] e o “que-com-respeito-a-o-que” [woraufhin] da interpretação são determinados. O objeto da interpretação é apreendido antecipadamente no “como-o-quê” e é interpretado de acordo com o “isso-com-respeito-a-o-quê”;
(3) uma faixa de visão [Sichtweite] que é limitada pelo ponto de vista e pela direção da visão, e dentro da qual a pretensão de objetividade da interpretação se move.
A possível realização da interpretação e da compreensão, bem como a apropriação do objeto que ocorre dessa forma, são transparentes na medida em que a situação — na qual e/ou a qual uma interpretação se desenvolve — é iluminada de acordo com os aspectos mencionados acima. A hermenêutica de cada situação respectiva tem de desenvolver a transparência da situação e tem de trazer essa transparência, como hermenêutica, para a abordagem da interpretação. [3]
Ver online : Phänomenologische Interpretationen ausgewählter Abhandlungen des Aristoteles zur Ontologie und Logik [GA62]
[1] [Nota manuscrita na margem esquerda:] Ser-caráter da interpretação [Seinscharakter der Interpretation]! — traz à tona o ser-assim [Sosein] — Como [Wie]. [Interpretação] é: já tendo apreendido o ser-histórico!
[2] [Nota manuscrita na margem inferior:] Ter uma visão é primário — predeterminação daquilo que deve ser interpretado, o que é, como deve ser interpretado. Ontologia (em que sentido) da vida, dos entes — em forma de quê, presentes como e acessíveis como o quê?
[3] [Nota manuscrita no final do parágrafo:] O desenvolvimento da situação hermenêutica é a apreensão [Ergreifen] das “condições” [Bedingungen] fáticas e dos “pré-requisitos” [Voraussetzungen] da pesquisa filosófica. Os pré-requisitos reais não estão ali para serem “lamentados” e “aceitos por compulsão” como fenômenos de incompletude [Phänomene der Unvollkommenheit], mas, ao contrário, devem ser vividos; isso não significa deixá-los ‘inconscientemente’ descansar consigo mesmos, sair do seu caminho, mas aproveitá-los como tais, e isso significa se lançar no histórico.