Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA27:86-87 – Subsistir-por-si-conjuntamente — ser-um-com-o-outro

sábado 9 de novembro de 2024

Tomemos como um exemplo simples dois blocos de pedra que se encontram na encosta de uma montanha. Podemos dizer: eles são juntos, mas não subsistem por si um com o outro. Em contrapartida, dois viandantes que sobem a encosta são um com o outro. É fácil de perceber a diferença: as duas pedras são corpos materiais, os dois viandantes seres vivos; e, com efeito, seres vivos racionais que, com o auxílio de sua razão, se apreendem mutuamente. Os homens também subsistem sem dúvida por si um ao lado do outro. Além disso, porém, eles têm uma consciência desse um-ao-lado-do-outro e um apreende o outro. Por conseguinte, seu SER-UM-COM-O-OUTRO [Miteinandersein] não seria nada além de um subsistir-por-si-conjuntamente [Zusammenvorhandensein] de maneira consciente.

Essa caracterização da diferença entre subsistir-por-si-conjuntamente e SER-UM-COM-O-OUTRO é à primeira vista elucidativa e parece ser pertinente, uma vez que indica claramente uma diversidade. Os blocos de pedra não são apenas desprovidos de consciência, como se tivessem perdido sua consciência e não pudessem mais por isso fazer uso dela. Ao contrário, conforme a sua própria essência, eles não têm consciência. Pode haver entre eles um efeito recíproco, mas lhes é pura e simplesmente vedado transformar seu um-ao-lado-do-outro em um apreender-se mutuamente. Como seres vivos racionais, os dois homens são capazes de uma tal apreensão. Ora, mas será que por meio da apreensão mútua o um-ao-lado-do-outro se transforma em um-com-o-outro? Imaginemos que, depois de uma curva da trilha em que caminham, os dois viandantes se deparem com uma vista inesperada da montanha, de modo que os dois são repentinamente arrebatados e silenciosamente passam a estar um ao lado do outro. Não há nenhum rasto de uma apreensão mútua, cada um se encontra antes absorvido pela vista. Será que os dois estão agora apenas um ao lado do outro como os dois blocos de pedra ou será que justamente nesse instante eles são um com o outro de uma maneira em que não podiam [91] ser quando juntos falavam à toa e sem parar ou mesmo quando se apreendiam mutuamente e se punham a sondar seus complexos?

Se, portanto, nesse arrebatamento pela vista repentina da montanha – em meio ao qual não faz mais sentido algum falar de uma apreensão mútua – reside precisamente um SER-UM-COM-O-OUTRO originário, então esse SER-UM-COM-O-OUTRO não pode se constituir por meio de uma apreensão mútua. E, para perceber como esse não é de maneira alguma o caso, basta ter em mente que toda apreensão mútua entre ser-aí e ser-aí já pressupõe, inversamente, o SER-UM-COM-O-OUTRO dos dois. A apreensão mútua está fundada no SER-UM-COM-O-OUTRO.

Nesse sentido, o SER-UM-COM-O-OUTRO significa mais, ele significa de fato algo diverso de: dois homens aparecem em algum lugar ao mesmo tempo. Até aqui obtivemos por meio da negativa o seguinte: 1. O SER-UM-COM-O-OUTRO não é um também-ser-ao-mesmo-tempo, com a única diferença de que esse ser seria justamente o ser-aí. 2. O um-com-o-outro tampouco aponta para um subsistir-conjuntamente, de modo que os entes por si subsistentes aí teriam além de tudo um saber mútuo acerca de si mesmos; ele não é nenhum também-ser-ao-mesmo-tempo, só que agora acompanhado de consciência. [GA27PT  :90-91]


Ver online : Einleitung in die Philosophie [GA27]