Leben, vie, vida, life, Lebensbewußtseins, Lebensbewusstseins, life-consciousness, Lebensphilosophie, philosophie de la vie, philosophy of life, filosofia da vida, filosofía de la vida, Dahinleben, se-laisser-vivre, in den Tag hineinleben, vivre au jour le jour, viver o seu dia, living unto the day
(…) o fato para o homem de se manter no Dasein (pois o homem é lançado em sua própria essência que ele não inventa nem se dá a ele mesmo) o dissocia de toda perspectiva e toda possibilidade de qualificação de sua essência pelo reino natural ou a “vida”. (CARON, 2005, p. 774)
No esboço da estrutura de sentido da expressão “vida” partimos do verbo “viver”. Aqui, como em toda parte, há que se fazer presente uma experiência concreta (konkrete Erfahrung), sendo que ali o destaque explicativo do sentido (explikative Abhebung des Sinnes) pode ser em princípio apenas e integralmente “sentimental” (gefühlsmäßig). 1) Viver como intransitivo: estar e ser na vida, alguém vive (no sentido: ele vive intensamente); “ele vive sóbrio e centrado”; “ele vive retraído”, “ele vive pela metade”, “vive-se assim”. 2) Viver em sentido transitivo: “viver a vida” (das Leben leben), “viver de seu encargo”; aqui na maioria das vezes composto: “viver atravessando isso e aquilo”; “viver desperdiçando os anos”; sobretudo: “vivenciar algo”. (GA61:82; GA61EPG:94)
Enquanto nome e substantivo, a expressão vida possui igualmente um significado rico e autônomo, que queremos delinear em três perspectivas:
1) A vida significando unidade da sequência e temporalização (Einheit der Folge und Zeitigung) dos dois modos de “viver” anteriormente mencionados, essa unidade em sua extensão (Erstreckung) total ou delimitada, em sua multiplicidade (Vollzugsmannigfaltigkeit) total ou parcial de execução e em sua respectiva originariedade ou distanciamento da origem (Ursprünglichkeit bzw. Ursprungsabständlichkeit) (aversão à origem e inimizade frontal (Ursprungsaversion und direkten Feindlichkeit).
2) A vida, apreendida como essa unidade sequencial delimitada (Folgeeinheit): ora, significando algo que, em sentido específico, carrega junto a si possibilidades (Möglichkeiten), em parte temporalizada (gezeitigte) enquanto em si mesma e para si. A vida, da qual falamos que pode nos trazer tudo, que é imprevisível; e ela própria, algo que carrega e é em si mesma suas possibilidades, ela mesma como possibilidade (uma categoria que tem de ser apreendida de forma rigorosamente fenomenológica; desde o princípio nada tem a ver com possibilidade lógica ou apriórica (logischer oder apriorischer Möglichkeit)).
3) A vida compreendida num significado onde 1 e 2 se entrelaçam mutuamente: a unidade da extensão na possibilidade e como possibilidade (Einheit der Erstreckung in der Möglichkeit und als Möglichkeit) – que perdeu as possibilidades, carregada de possibilidades e carregando a si mesma, criando possibilidades – e tomar isso tudo como realidade (Wirklichkeit), e quiçá realidade em sua intransparência específica como poder (Undurchsichtigkeit als Macht), destino (Schicksal). (GA61:84; GA61EPG:97)
VIDE: (Leben e derivados->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Leben)
vie
life
vida
NT: Life, living, live (Leben, leben), 25, 46-51, 57-58, 97, 104, 163, 246fn 425, et passim; in an understanding of being, 4; world in which we, 63 65, 71, 80; that which has life, 10, 25, 48, 50, 97, 165, 194, 240, 247, 346, 377; and care, 198 (Hyginus); and death, 104, 238, 240, 245-247, 249 n. 6, 316; and historicity, 401 (Yorck); and historiography, 396 (Nietzsche); and language, 163; and philosophy, 402 (Yorck); and reality, 212; and the they, 177; as a business, 289; the full and genuine, 177; inner (Innenleben), 273; cares of (Lebenssorge), 57; philosophy of, 46, 48, 398, 403; science of (i.e. biology), 9-10, 28, 46, 50; living (in general), 194; living along (dahinleben), 345, 405; `living´ away from oneself, 179; `living´ concretely, 178; living in a myth, 313; living in an understanding of Being, 4; living on (fortleben), 247; living unto the day (in den Tag hineinleben), 370-371; living-through (Er-leben), 47 (Scheler); the urge `to live´, 195-196; getting lived by one´s world, 195-196; getting lived by the ambiguity of publicness, 299; Dilthey on, 46, 209-210, 249 n. 6, 398; Yorck on, 400-402. See also Experience (Erlebnis) (BTJS)
vi. In its Interpretation of ‘life’, the anthropology worked out in Christian theology – from Paul right up to Calvin’s meditatio futurae vitae – has always kept death in view. Wilhelm Dilthey, whose real philosophical tendencies were aimed at an ontology of ‘life’, could not fail to recognize how life is connected with death: ‘…and finally, that relationship which most deeply and universally determines the feeling of our Dasein – the relationship of life to death; for the bounding of our existence by death is always decisive for our understanding and assessment of life.’ (Das Erlebnsis und die Dichtung, 5th Edition, p. 230.) Recently, G. Simmel has also explicitly included the phenomenon of death in his characterization of ‘life’, though admittedly without clearly separating the biological-ontical and the ontological-existential problematics. (Cf. his Lebensanschauung: Vier Metaphysische Kapitel, 1918, pp. 99-153.) For the investigation which lies before us, compare especially Karl Jaspers’ Psychologie der Weltanschauungen, 3rd Edition, 1925, pp. 229 ff., especially pp. 259-270. Jaspers takes as his clue to death the phenomenon of the ‘limit-situation’ as he has set it forth – a phenomenon whose fundamental significance goes beyond any typology of ‘attitudes’ and ‘world-pictures’. (BTMR)
(Das) Leben, “vida” , de leben, “viver” , era um conceito central em Dilthey, Scheler e Nietzsche. Exceto talvez em Nietzsche, vida não era concebida biologicamente, mas metafísica e historicamente. A vida é dinâmica. Este conceito é contrário ao materialismo, ao idealismo, e ao valor e verdade objetivos. E uma reação contra a “representação” , o “eu” e a relação sujeito-objeto (GA65, 326). Abarca tanto nossos estados mentais, conscientes e inconscientes, quanto os atos expressivos e criativos que constituem nossa história. Sob a influência de Dilthey, as preleções iniciais de Heidegger falam de Leben em um sentido próximo ao do posterior “dasein” (GA58, 29ss; GA61, 2, 79ss). “Nossa vida é nosso mundo — e raramente a examinamos; embora de maneira bastante irrefletida e indistinta, estamos sempre ´envolvidos´ (´dabei sind´): ´cativados´, ´repelidos´, ´satisfeitos´, ´resignados´. (…) e nossa vida só é vida na medida em que vive em um mundo” (GA58, 33s). Não podemos escapar da vida e observá-la de fora: “A vida fala para si mesma em sua própria linguagem” (GA58, 231; cf. 42, 250). A vida é “auto-suficiente” . A vida também “se expressa” e possui “significação” (GA58, 137). A filosofia emerge da vida: “Toda filosofia genuína nasce da dor da plenitude da vida, não de um problema pseudo-epistemológico ou de uma questão básica de ética” (GA58, 160; cf. 253s). Heidegger discorda de Husserl, que tendia a ignorar a vida: eu deveria me deixar levar pela potência da vida, “acompanhando a vivência (Mitmachen des Erlebens)” , ao invés de retirar-me dela na Epoche; precisamos “compreender” a vida de dentro dela — por meio da história — em lugar de concentrarmo-nos nas experiências intencionais das “coisas” (GA58, 254ss).
Por volta de 1923, a “vida fáctica (faktisches Leben)” é igualada a Dasein (GA63, 81). Lebensphilosophie, “filosofia de vida” , é “intrinsecamente uma tautologia, pois a filosofia não lida com coisa alguma, exceto com o próprio Dasein. A expressão ´filosofia de vida´ é, portanto, quase tão inteligente quanto ´botânica das plantas´” (GA21, 216. Cf. SZ, 46). Leben não é biológica: só compreendemos plantas e animais em comparação com nossa anterior compreensão da vida humana (GA61, 81 ss; SZ, 49s, 194). Heidegger prefere Dasein à Leben (cf. GA6T1, 278). Não porque Leben deva ser concebida como uma série de discretas Erlebnisse, “vivências” : Dilthey estava interessado na forma global ou estrutura da “vida como um todo” (SZ, 46). Isto porque “vida” é conceito impreciso, em constante risco de redução à mera vida biológica. Além disso, Dasein transmite melhor do que Leben a nossa relação com o ser, um conceito que não era proeminente nas preleções iniciais.
Em Nietzsche, “a palavra e o conceito ´Leben´ flutuam,”significando sucessivamente “entes como um todo” , “criaturas vivas (plantas, animais, homens)” , e “vida humana” (GA6T1, 573 Cf. GA65, 365). Leben está ligada ao “corpo” . Leib, o corpo humano, em contraste com Körper, o “corpo” meramente físico (GA15, 322: “o limite do Leib não é o limite do Körper” ), vem de Leben, e já significou “vida” . Um verbo derivado desta palavra, leiben, sobrevive atualmente apenas na expressão wie er leibt und lebt, “ser de carne e osso” , lit. “como ele corporifica e vive” . Heidegger recupera Leiben e a sua ligação tanto com Leib quanto com Leben, falando de leibende Leben, “vida corporificante” e leibende-lebende Mensch, “homem corporificante-vivente” : Das Leben lebt, indem es leibt, “A vida vive corporificando” (GA6T1, 163, 223, 565). O corpo não é, entretanto, um substratum físico ou biológico ao qual se sobrepõem níveis mais elevados: “Não ´possuímos´ um corpo, ´somos´ corpóreos (leiblich)” (GA6T1, 118). Nietzsche falou muito de biologia. Heidegger faz, porém, todo possível para inocentá-lo do “biologismo” , a visão de que nossos conceitos e crenças básicos dependem da nossa natureza biológica. A vida no sentido nietzschiano tem a ver com “biografia” mais do que com “biologia” , vindo ambas do grego bios, “vida” (GA6T1, 517 Cf. GA21, 34, onde bios, como “existência humana” , é distinguida de zoe, como “vida biológica” ). Heidegger tem duas principais objeções ao biologismo. Em primeiro lugar, a biologia enquanto uma ciência não pode fundamentar a metafísica, já que se baseia na metafísica. O fato de que selecionamos entes que vivem como uma área para estudo e o modo como os estudamos dependem da nossa metafísica (GA6T1, 524ss). Em segundo lugar, nossa liberdade implica que não somos determinados pela biologia. Nietzsche sugere que nosso conhecimento e categorias enraízam-se na nossa biologia, que até mesmo o princípio de não-contradição é uma necessidade biológica: o homem precisa evitar a contradição para dominar o caos que o envolve; assim como a água-viva desenvolve e estende seus órgãos preênseis, também o animal “homem” usa a razão e seu órgão preênsil, o princípio de não-contradição, para encontrar seu lugar no meio-ambiente e sobreviver (GA6T1, 593). Mas essa visão não procede. O homem não é biologicamente especializado, como o lagarto que ouve um farfalhar na grama mas não ouve um tiro próximo (GA6T1, 244). Homens podem contradizer-se e de fato contradizem-se, tanto aberta quanto implicitamente: “não há compulsão” , mas “uma peculiar liberdade, que é talvez o solo não apenas da possibilidade da autocontradição, mas até mesmo o solo da necessidade de se evitar o princípio de não-contradição” (GA6T1, 596; cf. 614). O conhecimento não pode ser explicado pela sua utilidade na “luta pela sobrevivência” , visto que algo só pode nos ser útil se já formos de um tal tipo que faz uso disso e/ou se pudermos discernir o uso apenas retrospectivamente do ponto de vista do conhecimento por ele supostamente explicado: “Mas um uso e a utilidade nunca podem ser o solo para a essência de uma atitude básica (Verhaltens), já que todo uso e toda atribuição de um propósito útil já estão postos a partir da perspectiva, sendo, portanto, sempre e unicamente a consequência de uma constituição essencial” (GA6T1, 610).
Heidegger recusa sistematicamente as tentativas de explicar a conduta humana e as suas variações biologicamente, acreditando, com Kant, que a nossa finitude humana é anterior ao nosso equipamento biológico (GA25, 86s Cf. GA3, 229), e, com Adam Smith, que a significação das diferenças intrinsecamente leves e insignificantes entre os homens dependem daquilo que fazemos delas (cf. RN, 14s). Para a reivindicação de que “A poesia é uma função biologicamente necessária dos povos” , ele replicou: “Assim como a digestão” (GA39, 27). Ele também é avesso à ideia de que a filosofia deveria ser “relevante para a vida” , lebesnah (GA31, 35).
Leben (das): «vida». Una breve mirada a los índices de las primeras lecciones de juventud de Heidegger muestra la importancia del concepto de vida. A diferencia de los representantes de la filosofía de la vida (Nietzsche, Simmel, Jaspers, etcétera), Heidegger elabora un nuevo concepto de filosofía entendida como ciencia originaria de la vida. La intencionalidad (Intenionalität), la autosuficiencia (Selbstgenügsamkeit) y la significatividad (Bedeutsamkeit) son los tres elementos fundamentales que determinan la facticidad de la vida. La vida tiene una comprensión de su ser que la fenomenología hermenéutica debe explicitar conceptualmente por medio de los indicadores formales; en otras palabras, la filosofía emerge de la vida misma en su intento de autocomprenderse. Heidegger sustituye la indicación formal de «vida» primero por la noción de «yo-histórico», luego por la de «experiencia fáctica de la vida» y finalmente por la de «Dasein». Heidegger prefiere la expresión «Dasein» por dos razones: en primer lugar, porque «vida» es un concepto confuso y que puede ser reducido a vida meramente biológica y, en segundo lugar, porque Dasein expresa mejor que vida nuestra relación con el ser, un concepto que todavía no ocupa un lugar prominente en las primeras lecciones de Friburgo (1919-1923). (GA56/57, pp. 5, 21, 110, 116-117 (= histórico); GA58, pp. 1, 25, 29 (vida en sí), 30-31 (lenguaje de la vida), 32 (diversidad de la vida), 33 (carácter mundano de la vida), 34, 36 (autocomprensión de la vida), 41 (vida fáctica), 54, 59 (facticidad), 60 (autosuficiencia de la vida), 61-64 (caracteres fundamentales de la vida fáctica), 73, 78 (fenomenología), 82, 104-110 (experiencia fáctica de la vida), 117, 139, 144-145, 147-148, 150, 154 (psicología), 155-156, 158 (articulación de la vida), 159-160, 167 (método); AKJ (GA9), pp. 8, 14-15 (vida / existencia), 16 (vida = movimiento), 19, 23-24, 32 (experiencia fáctica de la vida); GA59, pp. 13, 15 (fenómeno originario), 18, 21-23 (a priori de vida), 23 (vivencia), 36, 40 (= fenómeno originario), 70 (más que vida), 130, 136 (conciencia), 140-142 (actitud teorética), 143, 154 (Dilthey), 156-157, 172-173 (dos significados); GA60, pp. 33 (histórica), 34 (fenomenología), 37, 48, 50 (historia), 53, 69, 99 (modo de vida), 105 (= inseguridad), 192-201 (beata vita), 205-210 (inquietud, vida fáctica), 241-246 (facticidad), 243-244, 249 (realización), 265, 298-299 (Agustín), 305-306 (vida religiosa), 309, 315 (trascendental); GA61, pp. 79-80, 83-84, 94, 100-101, 108, 116, 120, 130, 137, 151-153, 155, 163 (filosofía), 171-172, 178; NB, pp. 18, 19 (tendencia de la vida a la simplificación), 20, 22, 23 (tendencia a la caída de la vida), 25-26, 27 (interpretación del sentido de la vida), 28 (vida – intencionalidad), 31, 43, 44 46, 51; GA63, pp. 7 (fáctica), 16, 81 (fáctica), 86, 103 (cuidado); GA17, pp. 2, 26 (ser en la posibilidad), 44, 51 (δύναμις (dynamis) – ἐνέργεια (energeia)), 105 (= tener el mundo), 274-275 (fenomenología de Husserl); GA19, pp. 15-17 (ἀλήθεια (aletheia) como modo de ser de la vida); GA20, pp. 19 (Dilthey), 30 (Husserl), 304; GA21, pp. 92, 146 (comprensión atemática), 150; GA22, pp. 173 (movimiento), 175, 179, 182-188 (ontología de la vida / Dasein), 184 (ψυχή (psyche), ζωή (zoe)), 185-188 (análisis de vida), 186 (poder ser), 188 (vida, Dasein), 312 (ζωή (zoe), βίος (bios)); GA24, p. 70 (psicología); GA2, pp. 50, 194, 209 (Dilthey), 247 (≠ existencia), 398 (Dilthey), 401, 403 (filosofía de la vida).) (LHDF)