Parmênides
O grande Parmênides afirma que o ser se essencializa na aparência, aí ele transparece. Vê na «aparência» o que Heráclito via na «fluência». O fluir ou o aparecer desocultam o ser, como o mensageiro à medida que aparece e corre para nós desoculta a mensagem.
Tudo quanto é, aparece, sai do velado, do coberto. Para indicar esse movimento de aparecer, o grego usa a palavra phainesthai que quer dizer aparecer e no ato de aparecer transparecer, i. é, brilhar, luzir. No ato de brilhar não diz tanto a fama de si, mas do que lhe possibilitou aparecer.
Tudo o que aparece é uma aparência, um brilho, uma luz de quê? Do vigor que envia o que aparece. A esse vigor Parmênides chama de ser, e ao que aparece chama de não-ser. Isso porque o que aparece não consiste em si, está na dependência da força instauradora de sua aparência. É pois radicalmente inconsistente.
«Necessário é dizer e pensar que só o ser é» (Fragm., n. 6). «Jamais se conseguirá provar que o não-ser (o que aparece) é; afasta, portanto, o teu pensamento desta via de investigação, nem te deixes arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito» (Fragm., n. 7).
Vivemos imersos no mundo das aparências. Estamos, diz Parmênides, tão acostumados a essa realidade aparente, que em geral nos deixamos guiar pelo saber dos sentidos que veem, tocam e ouvem.
O ser verdadeiro está no que aparece, mas como que velado, retraído. Ele só se revela ao pensamento que investiga e questiona. No questionamento e na investigação o pensamento desvela no evanescente do que aparece o ser permanente, sempre idêntico, eterno, imutável.
Pensar é permitir ao pensamento perceber o ser que se desvela e vela em tudo o que aparece. A partir daí compreende-se a célebre frase de Parmênides, que se constituiu em princípio condutor (Leitsatz) da Filosofia Ocidental: to gar auto noein estin te kai einai (pensar e ser são o mesmo).
É no que aparece, nos entes que aí se patenteiam, que o pensamento deve ler e pensar (logos – légein, «nous – noeín») o ser, que envia o que aparece. O pensamento, para pensar, não pode dispensar-se da aparência, está nesse limite, vive dessa necessidade. Se, porém, ele percebe que o limite é limite porque está no envio do que não é limite, e que a necessidade é necessidade porque está no envio do que não é necessidade, então o pensamento alcança o infinito e a plenitude do ser. Percebe e vive o infinito no finito, a plenitude na necessidade.