Heidegger Logos

Excertos de SER E TEMPO, trad. de Marcia Sá Cavalcante Schuback

Em Platão e Aristóteles, o conceito de logos é polissêmico e, de tal modo, que os vários significados tendem a se dispersar, sem a orientação positiva de um sentido básico. Mas, de fato, isso é somente uma aparência que se há de manter enquanto não se puder apreender devidamente o conteúdo primordial de sua significação básica. Quando dizemos que o significado básico de logos é fala, essa tradução literal só terá valor completo quando se determinar o que é uma fala. A história posterior do significado da palavra logos e, sobretudo, as interpretações diversas e arbitrárias da filosofia posterior encobrem continuamente o sentido próprio de fala, que é bastante claro. Desse modo, se “traduz”, o que sempre quer dizer, interpreta-se, logos por razão, juízo, conceito, definição, fundamento, relação, proporção. Mas como poderia a fala modificar-se tanto para que logos signifique tudo isso e, justamente, no uso de uma linguagem científica? Mesmo quando se entende logos como proposição e a proposição como “juízo”, esta tradução aparentemente correta pode, na verdade, deixar de fora o significado básico, sobretudo quando se concebe juízo no sentido hodierno de alguma “teoria do juízo”. Em todo caso, logos não diz, ou não diz primeiramente, juízo, caso se entenda por juízo uma “ligação”, um “posicionamento” (aceitar-rejeitar).

Como fala, logos diz, ao contrário, (deloun), revelar aquilo de que trata a fala. Aristóteles explicitou mais precisamente esta função da fala, determinando-a como apophainesthai. O logos deixa e faz ver (phainesthai) aquilo sobre o que se fala e o faz para quem fala (médium) e para todos aqueles que falam uns com os outros. A fala “deixa e faz ver” apo … a partir daquilo sobre o que fala. A fala (apophansis) autêntica é aquele que retira o que diz daquilo sobre que fala de tal maneira que, em sua fala, a comunicação falada revele e, assim, torne acessível aos outros, aquilo sobre que fala. Esta é a estrutura do logos como apophansis. Nem toda fala, porém, possui este modo próprio de revelação no sentido de deixar e fazer ver, demonstrando. Um pedido (euche), por exemplo, também revela, embora de outro modo.

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