- Ana Falcato
- Joan Stambaugh
Ana Falcato
Foi assim que Husserl observou, magnânimo mas, no fundo, reprovador, como eu, fora dos meus cursos e aulas práticas, estudava semanalmente com grupos de Seminário de alunos mais avançados, as Investigações Lógicas. Era sobretudo para mim próprio que a preparação deste trabalho era frutuosa. Foi então – no inicio mais movido por um pressentimento do que por uma inteligência clara do assunto – que aprendi o seguinte: aquilo que para a fenomenologia dos actos de consciência se realiza como o manifestar-se do fenómeno, foi mais originariamente pensado por Aristóteles e por todo o pensar e existência gregos, enquanto ἀλήθεια, o não-estar-encoberto do que está presente, como o seu desencobrimento, o seu mostrar-se. O que as investigações fenomenológicas tinham encontrado, de novo, como atitude portadora do pensar, era afinal o traço fundamental do pensamento grego, se não mesmo de toda a filosofia enquanto tal.
E quanto mais claro se me tornava esta noção, com tanta maior força se me colocava a questão: de onde vem e como se determina, segundo o princípio da fenomenologia, aquilo que deve ser experimentado como a “coisa ela mesma”? (die Sache selbst) Será ela a consciência e a sua objectualidade, ou antes o ser do ente no seu não-estar-encoberto e no seu encobrimento?
Assim fui levado ao caminho da pergunta pelo Ser, esclarecido pela atitude fenomenológica, num sentido renovado e diferente daquele que me guiava quando me inquietavam os problemas colocados pela dissertação de Brentano. Mas o caminho do questionamento seria mais longo do que eu teria podido supor. Requeria muitas pausas, rodeios e desvios. Aquilo que procurei fazer nas primeiras lições de Friburgo, depois nas de Marburgo, não mostra senão indirectamente esse caminho.