Das Ereignis refere-se frequentemente ao supremo acontecimento que constitui o Anfang, “começo”, o essencializar do ser, a revelação inicial do ser que pela primeira vez nos capacita a identificar entes. Aqui Heidegger explora ao máximo seu suposto parentesco com eigen etc.: “não é mais uma questão de lidar ‘com’ algo e apresentá-lo como um objeto, mas de ser transportado (übereignet) para o Er-eignis, que atinge uma mudança na essência do homem de ‘animal racional’ (…) para Da-sein” (GA65, 3). O ser se apropria do homem e o torna Da-sein, o local da revelação do ser: ” Ser como Er-eignis. A Er-eignung faz do homem a propriedade (Eigentum) do ser. (…) propriedade é pertencimento à Er-eignung e isso é o ser” (GA65, 263; cf. 254, 311). Ser como Ereignis não é “tornar-se”, “vida” ou ” movimento” no sentido nietzschiano. Avistar ser nesses termos — que dependem do ser como entidade — faz dele um objeto. Não devemos fazer asserções sobre ele, mas “dizê-lo em um dito que pertence ao que o dito traz à luz e rejeita toda objetificação e falsificação em um estado (ou um ‘fluxo’) (…)” GA65, 472). (DH)