Toda a historiografia 1 calcula o futuro [Kommende] pelas suas imagens do passado [Bildern vom Vergangenen], determinadas através do presente 2. A historiografia é a constante destruição do futuro [Zerstörung der Zukunft] e da relação histórica com o advento do destino [Ankunft des Geschickes]. Hoje, o historicismo não só não está ultrapassado, como só agora entra no estádio da sua expansão e solidificação. A organização técnica da esfera pública à escala mundial, através da radiodifusão e da já ultrapassada imprensa, é a verdadeira forma de hegemonia do historicismo.
Porém, será que podemos representar e apresentar a madrugada de uma idade do mundo de outro modo que não por via da historiografia? Talvez a historiografia seja ainda, para nós, um meio incontornável da presentificação do histórico. Isto, porém, não significa, de forma alguma, que a historiografia, tomada em si mesma, possa constituir uma relação com a história dentro da história, tendo uma tal relação um raio de alcance de facto suficiente.
[HEIDEGGER, Martin. Caminhos de Floresta. Tr. Irene Borges-Duarte et alii. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2014, p. 262]