GA5:194 – episteme e techne

[…] Aristóteles designa por episteme tis o por ele caracterizado contemplar do ente enquanto ente [Beschauen des Seienden als des Seienden], um modo 1 em que assim se encontra o nosso ver e perceber [Sehen und Vernehmen], designadamente, no estar-presente 2 enquanto tal. A 3, enquanto modo do estar-em [Weise des Dabeistehens], é, no que permanentemente está-presente ele mesmo, uma espécie de estar-presente humano no que está-presente não-encoberto. Nós mesmos precipitamo-nos no errar se traduzirmos a palavra episteme por ciência 4, e deixarmos à discrição que se diga com esta palavra o que, justamente, nos é conhecido sob a designação de ciência em geral. Mas se, apesar disso, traduzirmos aqui episteme por ciência, então esta interpretação só terá razão, se entendermos o saber [[?Wissen] como o ter-visto [Gesehenhaben] e pensarmos o ter-visto a partir daquele ver que se encontra ante o aspecto do que está-presente enquanto o que está-presente e visa o estar-em-presença ele mesmo. A partir do saber assim pensado a episteme tis de Aristóteles conserva, e de certo, não por acaso, a conexão essencial àquilo que Hegel chama “a ciência”, cujo saber, evidentemente, se transformou com aquela transformação do estar-presente do que está-presente. Se entendermos o nome “ciência” apenas neste sentido, então as assim chamadas ciências são ciência em segunda linha. As ciências, no fundo, são filosofia, mas são-no de uma maneira em que abandonam o seu próprio fundamento e se instalam, a seu modo, naquilo que a filosofia lhes abriu. Este é o domínio da techne [Das ist der Bereich der τέχνη].

[HEIDEGGER, Martin. Caminhos de Floresta. Tr. Irene Borges-Duarte et alii. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2014, p. 224]
  1. ?Weise[]
  2. ?Anwesen[]
  3. ?episteme[]
  4. ?Wissenschaft[]