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aletheuein / alethes / aletheia / alêthéia / ἀλήθεια / ἀληθής / ἀληθεύω / ἀληθεύειν

Os gregos têm uma expressão característica para a verdade: ἀλήθεια (verdade — desvelamento). Ο α é um a-privativo. Eles possuem, portanto, uma expressão negativa para uma coisa que compreendemos positivamente. “Verdade” tem para os gregos o mesmo significado negativo que, em alemão, por exemplo, “Unvollkommenheit” (imperfeição). Essa expressão não é pura e simplesmente negativa, mas negativa de uma maneira específica. Aquilo que exprimimos como imperfeito não possui, em geral, nada em comum com a perfeição, mas se orienta precisamente por ela: em relação à perfeição, ele não é como deveria ser. Essa negação é uma negação totalmente peculiar. Ela se acha com frequência velada nas palavras e significados, por exemplo, na palavra “cego”, que também é uma expressão negativa. Ser cego significa não poder ver; e só pode ser cego aquele que pode ver. Silenciar só pode aquele que pode falar. Imperfeito, portanto, é aquilo que possui uma determinada orientação ontológica pela perfeição. “Imperfeito” significa: aquilo de que ele é enunciado não possui a perfeição que ele poderia, que ele deveria ter, a perfeição que se desejaria que ele tivesse. Com relação à perfeição, falta-lhe algo, esse algo lhe foi tomado, roubado — privare, tal como o a-privativo o diz. Nos gregos, a verdade, para nós o positivo, é expressa negativamente como ἀλήθεια (verdade — desvelamento), enquanto a falsidade, para nós o negativo, é expressa positivamente como ψευδός (falso), ἀλήθεια significa: [16] não estar mais velado, estar descoberto. Essa expressão privativa indica que os gregos tinham uma compreensão de que o não encobrimento do mundo precisa ser primeiro conquistado, que ele é algo que não se acha de início e na maioria das vezes disponível. O mundo está de início fechado, ainda que não completamente; inicialmente, o conhecimento descerrador ainda não avançou em geral de maneira penetrante; o mundo só se acha descerrado na esfera mais próxima do mundo circundante na medida em que os carecimentos naturais o exigem. E precisamente aquilo que talvez estivesse originariamente descerrado na consciência natural em certos limites é na maioria das vezes novamente encoberto e dissimulado por meio da fala. Opiniões solidificam-se em conceitos e proposições, e esses conceitos e proposições são passados adiante, de tal modo que aquilo que tinha sido descerrado originariamente é uma vez mais velado. Assim, o ser-aí cotidiano se movimenta em um duplo encobrimento: de início, no mero desconhecimento, e, em seguida, porém, em um encobrimento muito mais perigoso, na medida em que o descoberto é transformado em não verdade por meio do falatório. No que se refere a esse duplo encobrimento, uma filosofia se vê colocada diante da tarefa de se arremeter algum dia pela primeira vez positivamente em direção às coisas mesmas, e, por outro lado, a assumir ao mesmo tempo a luta contra o falatório. As duas tendências são os impulsos iniciais propriamente ditos do trabalho intelectual de Sócrates, Platão e Aristóteles. Sua luta contra a retórica e a sofistica é a prova disso. A transparência da filosofia grega não é conquistada, portanto, na assim chamada serenidade do ser-aí grego, como se essa transparência tivesse sido dada aos gregos durante o sono. A consideração mais detida de seu trabalho mostra precisamente que empenho foi necessário para que eles atravessassem o caminho até o próprio ser e, ao mesmo tempo, passando pelo falatório. Isso significa, contudo, que não temos o direito de esperar receber as coisas de mão beijada, sobretudo porque estamos sobrecarregados com uma tradição rica e complexa.


LÉXICO DE FILOSOFIA