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Gestell

terça-feira 4 de julho de 2023

Gestell  , Ge-stell, arraisonnement, composição, enframing, com-posição, dis-puesto

Chamamos aqui de com-posição (Ge-stell) o apelo de exploração [herausfordernden Anspruch  ] que reúne o homem a dis-por do que se des-encobre como disponibilidade [das Sichentbergende als Bestand   zu bestellen].

Aventuramo-nos a empregar essa palavra, “composição” (Gestell), num sentido até agora inteiramente inusitado.

[…]

Com-posição, “Gestell”, significa a força de reunião daquele por que põe, ou seja, que desafia o homem a desencobrir o real no modo da disposição, como disponibilidade [Bestand]. Com-posição (Gestell) denomina, portanto, o tipo de desencobrimento que rege a técnica moderna mas que, em si mesmo, não é nada técnico. Pertence ao técnico tudo o que conhecemos do conjunto de placas, hastes, armações e que são partes integrantes de uma montagem. Ora, montagem integra, com todas as suas partes, o âmbito do trabalho técnico. Este sempre responde à exploração da com-posição [Herausforderung   des Ge-stells], embora jamais constitua ou produza a com-posição.

O verbo “pôr" (stellen), inscrito no termo com-posição, “Gestell’, não indica apenas a exploração [Herausfordern]. Deve também fazer ressoar o eco de um outro “pôr" de onde ele provém, a saber, daquele pro-por e ex-por [Her- und Dar-stellen] que, no sentido da ποίησις  , faz o real vigente [Anwesende  ] emergir para o desencobrimento [Unverborgenheit  ]. Este pro-por produtivo [hervorbringende Her-stellen] (por exemplo, a posição de uma imagem no interior de um templo) e o dis-por explorador [herausfordernde Bestellen], na acepção aqui pensada, são, sem dúvida, fundamentalmente diferentes e, não obstante, preservam, de feto, um parentesco de essência. Ambos são modos de desencobrimento, modos de ἀλήθεια. Na com-posição, dá-se com propriedade aquele desencobrimento em cuja consonância o trabalho da técnica moderna des-encobre o real [Wirkliche], como dis-ponibilidade [Bestand]. Por isso a técnica não se reduz apenas a uma atividade [Tun  ] humana e muito menos a um simples meio [Mittel  ] desta atividade. A determinação da técnica meramente instrumental e antropológica se torna, em princípio, de somenos importância; ajuntar-lhe, depois, uma explicação metafísica ou religiosa tampouco seria capaz de completá-la. [GA7CFS:23-24]


VIDE: Gestell

composição
arraisonnement
enframing

[NT: Traduzo Ge-Stell (Gestell) por arrazoamento. Somente a coisa mesma que se procura dizer justifica, na falta de terno mais adequado, o emprego de arrazoamento, que, segundo o projeto do Dicionário da Língua Portuguesa da ABL, de Antenor Nascentes, significa ato ou efeito de arrazoar. expor, apresentando razões pró ou contra, racionar, discorrer, conversar; discutir, altercar com outrem, disputando, argumentar. Heidegger utiliza a palavra Gestell (que em alemão significa armação, estante etc.) proveniente do verbo stellen, que tem o sentido de pôr, apontar o lugar, fixar, regular, provocar, exigir contas, contestar etc., para definir aquele âmbito que se cria pelo confronto entre homem e técnica (homem e natureza a ser transformada pela técnica), na medida em que ambos se provocam, exigem contas um do outro, chamam-se à razão reciprocamente. Prefiro o termo arrazoamento ao termo com-posição que às vezes usei, ou à palavra com-posto por outros sugerida. A palavra arrazoamento exprime também o império da razão que tudo invade pela técnica, que caracteriza uma época em que o homem busca as razões, os fundamentos de tudo, calculando a natureza, e em que a natureza provoca a razão do homem a explorá-la como um fundo de reserva sobre o qual dispõe. Os franceses traduzem Gestell por arraisonnement. [Ernildo Stein  ; MHeidegger 179]


NOTE TRANSLATOR: 17. The translation "Enframing" for Ge-stell is intended to suggest, through the use of the prefix "en-," something of the active meaning that Heidegger here gives to the German word. While following the discussion that now ensues, in which Enframing assumes a central role, the reader should be careful not   to interpret the word as though it simply meant a framework of some sort. Instead he should constantly remember that Enframing is fundamentally a calling-forth. It is a "challenging claim," a demanding summons, that "gathers" so as to reveal. This claim en frames in that it assembles and orders. It puts into a framework or configuration everything that it summons forth, through an ordering for use that it is forever restructuring anew. Cf. Introduction, pp. xxix ff. [QCT  , 19; GA7  ]
NOTE DU TRADUCTEUR: Ge-stell, où ge-, comme dans Gebirg et Gemüt  , a une fonction rassemblante : « l’être rassemblé des actes stell- », l’invitation à ces actes. On a vu ce radical figurer dans un petit groupe de verbes qui désignent, soit les operations fondamentales de la raison et de la science (suivre à la trace, présenter, mettre en évidence, représenter, exposer), soit les mesures d’autorité de la technique (interpeller, requérir, arréter, commettre, mettre en place, s’assurer de…). Stellen est au centre de ce groupe, c’est ici : « arréter quelqu’un dans la rue pour lui demander des comptes, pour l’obliger à rationem reddere » (Heid.), c’est à dire pour lui réclamer sa raison suffisante. L’idée va être reprise et développée dans Der Satz   vom Grund   (1957). La technique arraisonne la nature, elle l’arrête et l’inspecte, et elle l’ar-raisonne, c’est à dire la met à la raison, en la mettant au regime de la raison, qui exige de toute chose qu’elle rende raison, qu’elle donne sa raison. Au caractère impérieux et conquérant de la technique s’opposeront la modicité et la docilité de la « chose ». [GA7, 26]
NOTES DE TRADUCTION 1. Gestell. Comme le soupçonne Heidegger, nous tenons le mot Gestell pour intraduisible. Donnons en ici les raisons:
  •  Le mot, dans la langue courante, signifie : « tréteau, support, échafaudage, assemblage, montage ».
  •  De même qu’avec Platon   le mot ousia   acquiert un sens proprement philosophique qui le dégage de son sens usuel, de même avec Heidegger le mot Gestell peut d’autant moins se limiter à son sens courant qu’il devient mot de la pensée (parole pensante).
  •  La première phrase du texte dit: « L’essence du Gestell est de rassembler en lui toutes les possibilités de la mise en demeure (Stellen). » C’est là commenter le ge de Gestell, en explicitant le rassemblement tel qu’il est originellement à l’oeuvre, comme dans Gebirg, Gemüt (cf. Essais et Conférences, Paris, Gallimard, 1958, p. 26).
  •  Il nous a semblé impossible de trouver en français un mot répondant à Stellen et donnant toutes les dérivations que Heidegger rattache au verbe stellen: Gestell, Nachstellen, nachstellen, verstellen  , Bestellen.
  •  Heidegger donne à entendre ainsi das Gestell dans son ambivalence: das Gestell signale d’une part l’accomplissement de la métaphysique et recèle d’autre part le passage de la métaphysique à l’« anderer Anfang   » (l’« autre commencement » (Heidegger). Ainsi, en rendant Gestell par « Arraisonnement », la traduction d’Essais et Conférences ne marquerait que le premier des deux sens. Or si le Gestell est bien, selon un mot de Heidegger, l’« oubli total du quadriparti   [ou de la tétrade] (Geviert) », il est aussi comme le négatif photographique de l’avènement (Ereignis  ), à savoir: « verdeckender Vorschein   des Ereignisses » (le « pré-paraître recouvrant de l’avènement »), c’est à dire: Enteignis (cf. supra la note sur Enteignis dans la traduction du Protocole d’un séminaire sur la conférence « Temps et Être », p. 268).
  •  Pour d’autres précisions concernant le mot Gestell, se reporter au texte du séminaire de Fribourg (cf. infra, p. 476). [Q34   321]
    Le marxisme et la sociologie   nomment « impératifs » ces contraintes de la réalité d’aujourd’hui. Heidegger en rassemble la nomination sous le vocable de Gestell. Ge-stell, c’est le rassemblement, l’ensemble de tous les modes de position qui s’imposent à l’ être humain dans la mesure où ce dernier ek-siste aujourd’hui. Ainsi, das Ge-stell n’est aucunement le produit de la machination humaine; il est au contraire le mode extrême de l’histoire de la métaphysique, c’est-à-dire du destin de l’être. A l’intérieur de ce destin, l’homme est passé de l’époque de l’objectivité à l’époque de la disponibilité (die Bestellbarkeit) : dans cette époque, désormais la nôtre, tout est constamment à disposition, moyennant le compte d’une commande. Il n’y a plus, rigoureusement parlant, d’objets; seulement des « biens de consommation » à disposition de chaque consommateur, lui même situé dans le marché de la production consommation. [Q34 476]
    NT: The translation "Enframing" for Ge-stell is intended to suggest, through the use of the prefix "en-," something of the active meaning that Heidegger here gives to the German word. While following the discussion that now ensues, in which Enframing assumes a central role, the reader should be careful not to interpret the word as though it simply meant a framework of some sort. Instead he should constantly remember that Enframing is fundamentally a calling-forth. It is a "challenging claim," a demanding summons, that "gathers" so as to reveal. This claim en frames in that it assembles and orders. It puts into a framework or configuration everything that it summons forth, through an ordering for use that it is forever restructuring anew. [QCTechno; GA7]