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Die Grundbegriffe der Metaphysik. Welt – Endlichkeit – Einsamkeit [GA29-30]

GA29-30:33-34 – Filosofia e Filosofar

§ 7. A luta do filosofar contra a dubiedade insuperável de sua essência

quarta-feira 1º de fevereiro de 2023, por Cardoso de Castro

O filosofar não é nem uma reflexão ulterior sobre a natureza e a cultura simplesmente dadas, nem tampouco um ideário das possibilidades e leis que posteriormente são aplicadas ao que está simplesmente dado.

Casanova

Em contraposição aos desvios iniciais, procuramos apreender aqui a própria filosofia — mesmo que apenas provisoriamente. Isto se deu por sobre um caminho duplo. Em primeiro lugar: explicitamos o questionar filosófico em meio à interpretação de uma sentença de Novalis  : o filosofar é uma saudade da pátria, um impulso para se estar por toda parte em casa. Em segundo lugar: caracterizamos a dubiedade própria ao filosofar. De tudo isto, retiramos o suficiente para podermos afirmar que a filosofia é algo que repousa sobre si mesmo. Não podemos tomá-la por uma ciência entre outras, nem tampouco por algo que só encontramos quando de algum modo indagamos as ciências quanto às suas posições fundamentais. Não há filosofia porque há ciências, mas, ao contrário, só pode haver ciências porque e somente quando há filosofia. A fundamentação das ciências, a tarefa de fornecer seus fundamentos, não é nem a única tarefa da filosofia, nem a mais primordial. Ao invés disso, a filosofia transpassa conceptivamente o todo da vida humana (do ser-aí), mesmo quando não há nenhuma ciência; e este transpassamento não se dá apenas segundo a pura e simples contemplação embasbacada e ulterior da vida (do ser-aí) como algo simplesmente dado, determinando-a e ordenando-a a partir de conceitos universais. O próprio filosofar é muito mais um modo fundamental do ser-aí. De maneira velada, é a filosofia que na maioria das vezes faz com que o ser-aí venha a ser o que ele pode ser. O que o ser-aí do homem pode ser nas épocas singulares, contudo, o ser-aí concernente nunca o sabe; suas possibilidades só se formam, ao contrário, justamente no ser-aí. Mas estas possibilidades são tais possibilidades do ser-aí fático: ou seja, de seu haver-se com o ente na totalidade, deste haver-se que precisa ser empreendido.

O filosofar não é nem uma reflexão ulterior sobre a natureza e a cultura simplesmente dadas, nem tampouco um ideário das possibilidades e leis que posteriormente são aplicadas ao que está simplesmente dado.

Todas estas são concepções que fazem da filosofia uma ocupação e um serviço, mesmo que ainda em uma forma por demais sublimada. Em contraposição a isto, o filosofar é algo que se encontra antes de toda e qualquer auto-ocupação e que perfaz o acontecimento fundamental do ser-aí; algo que repousa sobre si mesmo e que é totalmente diverso das retenções, nas quais geralmente nos movimentamos.

Os antigos filósofos, nos primeiros começos decisivos, já o sabiam e precisavam saber. Assim, nos foi legada uma expressão de Heráclito  : "Por mais sentenças que ouça de muitos homens, nenhum deles consegue chegar a reconhecer que o ser-sábio, o sophon  , é algo que de todos se encontra apartado." Em latim, o apartado chama-se absolutum, algo que é em seu lugar próprio, ou, mais exatamente, que antes cunha por si mesmo e para si mesmo o seu lugar próprio. Platão   disse uma vez, em um de seus grandes diálogos, que a diferença entre o homem filosofante e o não filosofante é aquela entre estar acordado (hypar) e dormir (onar). O homem não filosofante, mesmo que seja o homem científico, claramente existe, mas dorme, e apenas o que filosofa é o ser-aí desperto; ante todos os outros ele é algo totalmente diverso, incomparavelmente repousando sobre si mesmo. Hegel   — para citar um filósofo da modernidade — designa a filosofia como o mundo às avessas. Com isso, ele quer dizer que ela, diante do que para o homem normal é normal, funciona como o "às avessas". No fundo, porém, ela é o que propriamente determina o lugar do ser-aí mesmo. Isto não vos deve ser suficiente como demonstração de autoridade, mas como uma indicação de que não inventei aqui um conceito de filosofia e de que não vos apresento arbitrariamente uma opinião   privada.

A filosofia é algo que repousa originariamente sobre si mesmo. Exatamente por isso, ela não é nada isolado. Ao contrário, conquanto se mostre como esta coisa maximamente extrema e primeva, ela já inseriu tudo no cerne do conceito, de tal modo que toda e qualquer aplicação sempre chega demasiado tarde e é uma incompreensão.

Não se trata de nada menos do que reconquistar uma vez mais esta dimensão originária do acontecimento no ser-aí filosófico, para chegar a "ver" todas as coisas de novo de modo mais simples, mais intenso e mais duradouro. (trad. Casanova  , 2003 p.27-29)

Daniel Panis

Nous avons tenté jusqu’ici, quoique de façon seulement provisoire, de saisir le philosopher lui-même en évitant les premiers chemins détournés. Nous l’avons fait sur un double chemin. Premièrement, nous avons élucidé l’interrogation philosophique sur le chemin d’une explicitation de la parole de Novalis : le philosopher est nostalgie, qui pousse à être partout chez soi. Deuxièmement, nous avons caractérisé l’ambiguïté spécifique du philosopher. De tout cela, nous déduisons que la philosophie   est quelque chose d’autonome. Nous ne pouvons la [46] prendre ni comme une science parmi d’autres, ni davantage comme quelque chose que nous trouvons seulement si nous interrogeons les sciences sur leurs assises fondamentales. Il n’y a pas de philosophie parce qu’il y a des sciences. Mais au contraire, il ne peut y avoir des sciences que parce qu’il y a et s’il y a de la philosophie. Mais la légitimation des sciences, c’est-à-dire la tâche de leur donner un fondement, n’est ni la seule ni la toute première tâche de la philosophie. La philosophie traverse et empoigne l’entièreté de la vie humaine (du Dasein  ) même quand il n’y a pas de science ; et cela non pas seulement de telle façon qu’elle regarderait bouche bée, uniquement après coup, la vie (le Dasein) comme se trouvant être là, puis l’organiserait et la déterminerait d’après des concepts généraux. Le philosopher lui-même est plutôt un mode fondamental du Dasein. La philosophie est ce qui, en retrait, laisse le plus souvent le Dasein d’abord devenir ce qu’il peut être. Mais ce que le Dasein de l’homme peut être à chaque époque particulière, le Dasein concerné ne le sait jamais. Ses possibilités se forment précisément d’abord et seulement dans le Dasein. Mais ces possibilités sont celles du Dasein effectif, c’est-à-dire ses possibilités d’explication à mener avec l’étant en entier.

Le philosopher n’est pas une réflexion, faite après coup, sur la nature et la culture qui se trouveraient être là. C’est tout aussi peu une invention de possibilités et de lois qui seraient appliquées ensuite à ce qui se trouve être là.

Tout cela, ce sont des conceptions qui font de la philosophie une occupation et une activité, quoique sous une forme encore sublimée. Le philosopher est, au contraire, quelque chose qui précède toute occupation et qui constitue l’événement fondamental du Dasein. C’est quelque chose qui est autonome et d’une nature totalement autre que les conduites que nous adoptons communément.

Cela, les philosophes anciens le savaient déjà et devaient le savoir, lors des premiers commencements décisifs. Ainsi, d’Héraclite nous est rapportée cette parole : … « Des nombreuses sentences humaines [47] que j’ai pu entendre, aucune n’est allée jusqu’à reconnaître que l’être-sage, le σοφόν [la philosophie] est quelque chose qui est séparé de tout le reste. » [H. Diels, Die Fragmente der Vorsokratiker  , éd. par W. Kranz, Berlin, 1934 sq., 5e éd., vol. 1, fragment 108.]]. « Des nombreuses sentences humaines [47] que j’ai pu entendre, aucune n’est allée jusqu’à reconnaître que l’être-sage, le σοφόν [la philosophie] est quelque chose qui est séparé de tout le reste. » En latin, ce qui est « séparé » se dit absolutum, quelque chose qui est à son lieu propre, plus précisément : quelque chose qui d’abord se forme lui-même son lieu propre. Dans un de ses grands dialogues [1], Platon dit une fois que la différence entre l’homme qui philosophe et celui qui ne philosophe pas est la différence entre la veille (ὔπαρ) et le sommeil (ὄν  αρ). L’homme qui ne philosophe pas, y compris l’homme de science, existe bien, mais il dort. Seul le philosopher est le Dasein éveillé; il est, contrairement à tout le reste, quelque chose de totalement autre, d’incomparablement autonome. Hegel – pour nommer un philosophe des temps nouveaux – caractérise la philosophie comme le monde à l’envers. Il veut dire que, par opposition à ce qui est normal pour les hommes normaux, la philosophie a l’air de quelque chose qui est à l’envers, mais qu’au fond elle est l’ajustement véritable du Dasein lui-même. Cela ne doit pas pouvoir vous suffire en tant que démonstration autoritaire, mais seulement comme l’indication que je n’ai pas trouvé ici un concept de la philosophie, et que je ne vous ai pas servi arbitrairement une opinion personnelle.

La philosophie est quelque chose d’autonome de par son origine même. Mais ce n’est nullement pour cela qu’elle est isolée. Au contraire, en tant qu’elle est cette chose extrême et première, elle a déjà tout conçu entièrement, de sorte que chaque application vient trop tard et est un malentendu.

Ce dont il y va, ce n’est rien moins que de reconquérir cette dimension originelle de l’événement dans le Dasein philosophant, afin de « voir » d’abord toute chose à nouveau plus simplement, plus intensément et plus tenacement.

McNeill

Thus far, we have attempted to grasp philosophizing itself – albeit only in a provisional way – in contrast to our initial detours. We have done so in two ways. First, we clarified philosophical questioning by way of our interpretation   of a word of Novalis: philosophizing is homesickness, the urge to be at home everywhere. Second, we characterized the unique ambiguity proper to philosophizing. From all this we may conclude that philosophy is something autonomous that stands on its own. We may neither take it as a science among others, nor as something that we find only whenever we question the sciences with respect to their foundations. Philosophy does not   exist because there are sciences, but vice-versa: there can be sciences only because and only if there is philosophy. Yet the grounding of the sciences, i.e., the task of furnishing their ground, is neither the sole nor the principal task of philosophy. Rather philosophy permeates the whole of human life (Dasein) even when there are no sciences, and not only in such a way as to merely gape belatedly at life (Dasein) as something at hand  , ordering and determining it according to universal concepts. Philosophizing itself is rather a fundamental way of Da-sein  . It is philosophy which, in a concealed way for the most part, lets Da-sein first become what it can be. Yet the Dasein concerned never knows what the Da-sein of man can be in individual epochs. Rather its possibilities are first formed precisely and only in Da-sein. Such possibilities, however, are those of factical Dasein, i.e., of the confrontation it must have with beings as a whole.

Philosophizing is not some belated reflecting on nature and culture as something at hand, nor is it a thinking up of possibilities and laws that can subsequently be applied to whatever is at hand.

All these are views which make an occupation and a business out of philosophy, albeit in a very exalted form. In contrast to this, philosophizing is something that lies prior to every occupation and constitutes the fundamental occurrence of Dasein, something autonomous that stands on its own and is quite different in nature to the kinds of comportment within which we commonly move. – The philosophers of antiquity already knew this and had to know it in their first decisive commencements. A word handed down to us from Heraclitus [23] … “However many men I heard the statements of, none has managed to recognize that being wise, the σοφόν [philosophy], is something separated off from everything else.” [H. Diels, Die Fragmente der Vorsokratiker. Ed. W. Kranz (Berlin, 1934ff.). Fifth edition. Vol. I, Frgm. 108.] In Latin, what is separated off is called absolutum, something that is at its own proper place, or more precisely, something that first forms its own proper place for itself. Plato says in one of his major dialogues [2] that the difference between the philosophizing human being and the one who is not philosophizing is the difference between being awake (ὔπαρ) and sleeping (ὄναρ). The non-philosophizing human being, including the scientific human being, does indeed exist, but he or she is asleep. Only philosophizing is wakeful Dasein, is something totally other, something that stands incomparably on its own with respect to everything else. Hegel (to name a philosopher of the modern era) designates philosophy as the inverted world. He means that compared to what is normal for the normal human being, philosophy looks like something upside down, yet is fundamentally that orientation which is proper to Dasein itself. This may suffice not as an authoritative proof, but merely as an indication that I am not inventing a concept of philosophy here, nor arbitrarily presenting you with some private opinion.

Philosophy is something primordial that stands on its own, yet for this very reason it is not something isolated. Rather, as something extreme and primary, it is already comprehensive of everything, so that any application of it comes too late and is a misunderstanding.

At issue is nothing less than regaining this originary dimension of occurrence in our philosophizing Dasein, in order once again to ‘see’ all things more simply, more vividly, and in a more sustained manner.

Original

Wir versuchten bisher, entgegen den anfänglichen Umwegen, das Philosophieren selbst   – wenngleich nur vorläufig   – zu fassen. Es geschah auf   doppeltem Wege. Erstens: Wir verdeutlichten das philosophische Fragen   auf dem Wege einer Auslegung des Novaliswortes: Philosophieren ist Heimweh  , der Trieb  , überall zu Hause zu sein  . Zweitens: Wir kennzeichneten die eigene Zweideutigkeit   des Philosophierens. Aus all dem entnehmen wir so viel, daß   die Philosophie etwas Eigenständiges ist. Wir können sie weder als eine Wissenschaft   unter anderen   nehmen  , noch aber als etwas, was wir nur finden, wenn wir etwa die Wissenschaften auf ihre Grundlagen befragen. Es gibt   nicht   Philosophie, weil es Wissenschaften gibt, sondern umgekehrt, es kann Wissenschaften geben, nur weil und nur wenn es Philosophie gibt. Aber die Begründung   dieser, d. h. die Aufgabe, ihren Grund abzugeben, ist weder die einzige noch die vornehmlichste Aufgabe der Philosophie. Sie durchgreift vielmehr das Ganze   des menschlichen Lebens (Daseins) auch dann  , wenn es keine Wissenschaften gibt, und nicht nur so, daß sie das Leben   (Dasein) als vorhandenes nachträglich lediglich begaffte und nach allgemeinen Begriffen ordnete und bestimmte. Vielmehr ist Philosophieren selbst eine Grundart des Da-seins. Die Philosophie ist es, die im Verborgenen zumeist das Da  -sein erst zu dem werden   läßt, was es sein kann. Was aber das Da-sein des Menschen in den einzelnen Epochen sein kann, weiß das betreffende Dasein nie, sondern seine Möglichkeiten bilden   sich gerade erst und nur im Da-sein. Aber diese Möglichkeiten sind solche des faktischen Daseins, d. h. seiner zu leistenden Auseinandersetzung   mit dem Seienden   im Ganzen.

Philosophieren ist ebensowenig ein nachträgliches Reflektieren über die vorhandene Natur   und Kultur  , ebensowenig ein Ausdenken von Möglichkeiten und Gesetzen, die nachher auf das Vorhandene angewandt werden.

All das sind Auffassungen, die aus der Philosophie eine Beschäftigung und einen Betrieb   machen  , wenn auch in noch [34] so sublimierter Form. Demgegenüber ist Philosophieren etwas, was vor allem Sichbeschäftigen liegt und das Grundgeschehen des Daseins ausmacht, was eigenständige und total andersartig gegenüber den Verhaltungen ist, in denen wir uns gemeinhin bewegen.

Das wußten schon und mußten wissen die alten Philosophen in den ersten entscheidenden Anfängen. So ist uns von Heraklit ein Wort   überliefert   … [H. Diels, Die Fragmente der Vorsokratiker. Hg. W. Kranz. Berlin 1934: ff. 5. Aufl. Bd. 1, Fragment 108.] »Wie vieler Menschen Aussprüche ich   auch hörte, keiner ist zu dem gelangt, zu erkennen  , daß das Weisesein, das σοφόν [die Philosophie] etwas ist, was von allem abgetrennt ist.« Lateinisch heißt das Abgetrennte absolutum, etwas, was an seinem eigenen   Ort   ist, genauer, was erst selbst sich seinen eigenen Ort bildet. – Platon sagt einmal in einem seiner großen Dialoge [3], der Unterschied   zwischen   dem philosophierenden Menschen und dem nichtphilosophierenden ist der zwischen Wachen (ὔπαρ) und Schlafen (ὄναρ). Der nichtphilosophierende Mensch  , auch der wissenschaftliche Mensch, existiert wohl, aber er schläft, und nur das Philosophieren ist das wache Dasein, ist gegenüber allem anderen etwas total anderes, unvergleichlich eigenständig. – Hegel – um einen Philosophen aus der neueren Zeit   zu nennen – bezeichnet die Philosophie als die verkehrte Welt  . Er will sagen  , daß sie gegenüber dem, was für den normalen Menschen normal ist, sich wie das Verkehrte ausnimmt, aber im Grunde das eigentliche Zurechtrücken des Daseins selbst ist. Das mag Ihnen nicht als autoritativer Beweis, sondern nur als Hinweis genügen, daß ich hier nicht einen Begriff   der Philosophie erfinde und Ihnen nicht eine Privatmeinung willkürlich vorsetze.

[55] Philosophie ist etwas Urtümlich-Eigenständiges, aber gerade deshalb nichts Isoliertes, sondern als dieses Äußerste und Erste hat es alles schon inbegriffen, so daß jede Anwendung zu spät kommt und ein Mißverständnis ist.

Um nichts Geringeres geht es, als diese ursprüngliche Dimension des Geschehens im philosophierenden Dasein wieder zu gewinnen, um alle Dinge erst wieder einfacher, stärker und nachhaltiger zu »sehen  «.


Ver online : Die Grundbegriffe der Metaphysik. Welt – Endlichkeit – Einsamkeit [GA29-30]


[1République, Platonis Opera, éd. par I. Burnet, Oxford, 1902 sq., vol. IV, 476 c sq., 520 c, 533 c.

[2Plato, Res Publica. Platonis Opera. Ed.!. Burnet (Oxford, 1902ff.). Vol. 4, 476 c f., 520c, 533c.

[3Platon, Res Publica. Platonis Opera. Hg. I. Burnet Oxford 1902ff. Bd. IV, 476 c f., 520 c, 533 c.